sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

SAUDADE BREJEIRA - FRANCISCO SÁ

SAUDADE BREJEIRA

Enoque Alves Rodrigues

O sol brilhava intensamente lá pelos altos da Serra do Catuni. Seus raios fortes ultravioleta lambiam, solenemente, a barriga da bela serra, marco de beleza sem igual que identifica as lindas paisagens do Velho Brejo das Almas, onde os muares ainda ruminavam o banquete noturno.

Eram 7 horas de uma linda manhã do inicio do mês de Setembro.
Nas ruas, ainda de terra batida, o vento uivava com a intensidade de um vulcão, levantando nuvens de poeiras vermelhas, que adentravam, sem prévio convite, os pequeninos casebres de então, o brejeiro, pacato, cuidava de seus mais simples e comezinhos afazeres. Todas as pessoas já se encontravam em clima de festa. aproximavam-se as comemorações dos padroeiros do pequeno lugarejo aonde todas as almas se encontram e reverenciam. A euforia e as expectativas para os tres grandes dias de festas, afloravam-se.
É a vida seguindo lentamente o seu curso. Lento e natural. Ninguém tinha pressa...
No casarão, imponente e arejado, o mais importante do lugarejo, Jacinto Silveira e Maria Luiza, cuidavam da educação de sua prole. Os meninos tinham que crescer em um ambiente Cristão e saudável para seguirem seus caminhos. Geraldo Tito e Olyntho já manifestavam naquela tenra idade, suas inclinações para as letras.
No vasto alpendre da sala, Jacinto confabulava com seus correligionários saboreando um cafezinho mineiro acompanhado de broas de milho, preparando-se para mais um pleito eleitoral de novembro que se avizinhava, Maria Luisa, sua doce e fiel esposa, em um dos muitos quartos da casa, dedilhava um velho piano do qual arrancava maravilhosas sinfonias de Beethoven.
Enquanto isso, lá na velha Matriz do Brejo, o Padre Augusto Prudêncio se preparava para mais uma missa. Os fieis já estavam a postos, ávidos pelos seus sermões.
Na lagoa das pedras, com suas águas claras e cristalinas de um azul que refletia tal qual espelho as imagens das arvores e bovinos, peixes, marrecos, marrecos, ariris e patos nadavam, despreocupadamente.
Nos dois riachos as lavadeiras cantarolavam musicas nativas do lugar enquanto ensaboavam suas roupas antes de batê-las sobre uma pedra, no instante em que seus maridos desciam a Serra do Mocó, retornando de mais uma cansativa e frustrada noite de caça aos tatus. Eles não tinham a mesma sorte do lendário “Zé Tatu”, o antigo e o mais bem sucedido caçador desse espécime do Brejo. Ele tinha coleções intermináveis de cascos para confirmar a veracidade de seu sucesso neste tipo de caça.
Em Lagoa Seca, Rosalino cuidava de seu gado. Muito leite para tirar. Muitas vacas com suas crias amarradas as pernas e muitas outras prenhes.
Olympio Dias palestrava com seu grande amigo e correligionário Deputado Camilo Prates, sobre as pretensões de seu filho Alfredo Dias em ingressar no mundo da política. Sonho frustrado pela vida boemia interrompido que fora com sua morte, inconseqüente.
Lolô do Mangal, baixinho e barrigudo, feio de dar dó, preparava-se para praticar mais uma boa ação. Era feio somente por fora, pois dentro daquele peito rudimentar pulsava o mais bondoso coração do brejo. Ajudava a todos, indistintamente.
Lá em Cana-Brava, ás 5 horas da manhã, José Dias Pereira, o Zeca Guida, batia numa velha enxada à guisa de sirene, com seu vozeirão inconfundível, acordava os homens para mais um dia de trabalho: vamos trabalhar, vagabundos...rapadura é doce mais não é mole. Aqui tem que se comer o couro para se cagar correias. Grande Zeca. Matuto. Rico e bem sucedido, mas enérgico, complacente e caridoso.
Alheios a vida brejeira, até então, pois viviam em outro distrito que naquela época não pertencia ao Município de Brejo das Almas, cresciam robustos, na Fazenda Brejo de Santo André, em um lar farto e culto, os meninos Francisco e Alfredo Sá, que futuramente, com toda elegância, humildade e impar sabedoria, se encarregariam de levar aos quatro cantos do Planeta, o nome daquele torrãozinho, até então esquecido lá nos cafundós do Norte Mineiro, tornando-o conhecido e respeitado, dando-lhe o lugar de destaque de há muito merecedor. Não é sem motivos que hoje, ou desde 1938, a antiga Cidade de Brejo das Almas, leva, com todo o mérito, o nome de um destes dois grandes Brasileiros: Francisco Sá. Se bem que ainda nos dias atuais, pairam sérias e oportunas controvérsias, sendo que uma delas, na minha pobre visão de “brejeiro autentico” é a de que não seria o caso de ter dado ao lugar o nome de quem lá viveu, lutou e morreu? De quem, possuindo, legalmente, como propriedades suas quase todas as terras onde se localizava o velho Brejo das Almas, desprovido de qualquer avareza mas dotado de grande desprendimento, desapego as coisas materiais e sentimento Cristão e Patriótico, abriu mão de tudo isso pelo simples sonho de ver sua terra e sua gente independentes e emancipados? Que em luta empedernida na qual entrou rico e saiu pobre, deu o sangue e sacrificou a própria vida? Que no afã de conseguir com que o lugarejo de Brejo das Almas se transformasse em Município construiu por sua própria conta e com dinheiro do seu bolso os prédios que o habilitaria ao pleito de Município?
Pois é. Esse sujeito, cuja história tenho a honra de conhecer de cor e salteado, é Jacinto Alves da Silveira, marido da Dona Maria Luisa Araujo Silveira, pais dos meninos Geraldo Tito e Olyntho Silveira e sogros de Zezé e Yvonne de Oliveira Silveira.
Então, ficamos assim: Jacinto Silveira é o cara...
E tenho dito!

Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.









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