sábado, 26 de junho de 2010

O DR. FRANCISCO SÁ – O HOMEM E A CIDADE - FINAL

Enoque Alves Rodrigues

Não me cabe aqui fazer a biografia do Dr. Francisco Sá, tarefa já desempenhada com grande maestria e eloqüência por escritores renomados, sendo a meu ver, a mais completa delas, a do Bacharel Sidney Chaves. Nela podemos constatar com riqueza de pormenores o retrato fiel da pessoa que foi o Dr. Francisco Sá e que aqui estou tentando exaltar.
Relatarei, para finalizar, alguns tópicos de sua vida, que propositadamente deixei para adicionar neste epilogo, com o intuito de colaborar com pesquisas eventuais sobre este grande Brasileiro de nossa Terra.
-Nasceu na Fazenda do Brejo de Santo André, então pertencente ao território de Grão Mogol, hoje e desde o ano de 1923 ao território do Brejo das Almas, hoje Francisco Sá. Portanto, ao contrário do que muitos pensam, Francisco Sá, não nasceu “brejeiro” do Brejo das Almas. Era “brejeiro” apenas por ter nascido no Brejo de Santo André, no município de Grão Mogol. Assim sendo, quero fazer justiça a nossa não menos linda e vizinha Cidade e ao seu povo hospitaleiro: O gentílico do Dr. Francisco Sá, quando nasceu não era “brejeiro” mas “grão-mogolense”. Parabéns, Grão Mogol, fundada que foi aos 23 de Março de 1840, cuja Bandeira do Município ostenta o mais lindo e significativo lema: “A riqueza está no trabalho”.
-Estudou as primeiras letras com Professor Particular ali mesmo na Fazenda do Brejo de Santo André. Fez o curso secundário em Diamantina e o curso superior em Ouro Preto, formando-se Engenheiro pela Escola de Minas, galgando o primeiro lugar de sua turma da qual foi ele o orador, no ano de 1884, então com 22 anos de idade.
-Foi Secretário do Presidente da Província do Ceará, Dr. Carlos Honório Otoni. Pelo mesmo Ceará elegeu-se Deputado Geral. Regressou para Minas Gerais onde se elegeu Deputado Provincial. Ainda nas Minas Gerais após a proclamação da República foi Diretor dos serviços de Terras e Colonização. Foi Secretário do Governo de Bias Fortes, elegeu-se Deputado pelo Ceará, Estado que depois viria a representar como Senador da República. Três vezes Ministro, sendo duas vezes da Viação e uma vez da Agricultura.
Na condição de Ministro da Viação, construiu, em vários Estados da Federação, Estradas de Ferro e Portos, e deu combate a seca do Nordeste Brasileiro. Prometeu e trouxe, -como “bom brejeiro de palavra”-, na condição de Ministro da Viação do Governo Arthur Bernardes, a Estrada de Ferro Central do Brasil, que veio beneficiar toda a região do norte-mineira. Em sinal de gratidão, o povo ergueu-lhe uma estátua na Praça da Estação, em Montes Claros. Numa placa de bronze, ao pé de sua estátua, estão gravadas as seguintes palavras: “Foi o maior e melhor amigo”.
-Nos anais da História estão gravados de formas indeléveis e inequívocas, varias homenagens a este grande brejeiro do qual todos nós nos orgulhamos mesmo não tendo tido o privilégio de ser-lhe contemporâneo. É nosso conterrâneo e isto nos basta. Ainda que não fosse do Brejo ou de nossa Grão Mogol, mas apenas pelo fato de o Grande Francisco Sá, que nomina minha Cidade, ter nascido no Brasil -que hoje produz tanta porcaria como Político -assim como os Sarneys e os Maluf´s, para citar algumas tranqueiras podres que como múmias do Século zero, antes do Mundo, insistem em manterem-se de pé, a escarnecer de nós, pacatos Cidadãos que carregam este Pais nas costas-, já seria mais que suficiente para nos sentirmos orgulhosos.
A revista “Montes Claros em Foco” do ano de 1962, centenário do Dr. Francisco Sá, à página 452, vários escritores como Nelson Viana, Olyntho da Silveira e muitos outros, além do historiador Hermes de Paula, prestam-lhe, através de inúmeros discursos, grande homenagem.
-A verdade é que, meus amigos, e conterrâneos, com a modéstia que faz parte de minha personalidade, procurei, durante boa parte de minha existência, ir a fundo, aprofundar-me com imparcialidade, sem endeusamento, no “escarafunchar” a vida da Ilustre figura que foi Francisco Sá, o homem. Devo dizer, com humildade, que em razão disso possuo grande acervo de conhecimento escrito ou simplesmente gravados na memória, sobre nosso conterrâneo Francisco Sá. Mas tenho que admitir que por mais que alguém tente, pesquise, garimpe nos “sebos da vida”, jamais se conseguirá juntar fragmentos aqui e ali suficientemente compatíveis ou próximos do que foi Francisco Sá, o homem. Por mais que se investigue ou escreva, sempre ficará algo por relatar.
Um grande abraço.
Inté...
Enoque Alves Rodrigues, atua nas áreas de Engenharia Civil, Pesada e Obras de Artes, Montagens Industriais e Grandes Estruturas.
Saibam mais sobre o Brejo das Almas visitem os sites: http://citybrazil.uol.com.br/mg/franciscosa/index.php

sábado, 19 de junho de 2010

DR. FRANCISCO SÁ – O HOMEM E A CIDADE

DR. FRANCISCO SÁ – O HOMEM E A CIDAD
Enoque Alves Rodrigues

1975. Novembro. Sentado atrás de uma velha Olivetti tentava datilografar trabalho de redação livre que teria que apresentar na Escola. Apegado que sempre fui a minha querida Terra, o Brejo das Almas, Francisco Sá, beldade do norte de minas, vacilava quanto a repercussão que poderia não obter, caso dissertasse sobre um pequenino lugarejo encravado em algum lugar do Sertão do Norte de Minas. Estava eu em São Paulo, e como poderia imaginar, por aqui, naqueles tempos, quem além de mim conheceria Francisco Sá, o Brejo das Almas?
-Era um trabalho que valia pontos para as provas finais e eu não poderia jamais desperdiçar a oportunidade.
Foi quando me ocorreu escrever sobre o Dr. Francisco Sá, o homem, não a Cidade, para depois dessa introdução, falar da Cidade do Brejo das Almas. Nasceu ali há exatos 35 anos o meu desejo de ser um divulgador voluntário da pequenina Cidade que me serviu de berço. Iniciava, assim:
- O Dr. Francisco Sá, nasceu na Fazenda do Brejo de Santo André, no Município do Brejo das Almas, Minas Gerais, no dia 14 de Setembro do ano 1862 e faleceu no dia 23 de Abril de 1936. Possuía inteligência extremamente avançada e muito além de seu tempo, foi engenheiro, jornalista, político e um grande Ministro. Exerceu com competência e galhardia por três vezes os Ministérios da Viação Transportes e Obras Públicas, nos governos de Nilo Peçanha e Artur Bernardes de 1909 a 1910 e de 1922 a 1926 e em 1909 assumiu o Ministério da Agricultura Industria e Comércio. Foi ainda Deputado Federal e Senador no período de 1906 a 1927.
Era filho de Francisco José de Sá Filho, rico fazendeiro e criador de gados, sendo a fazenda do Brejo de Santo André onde nascera, propriedade de seu avô. Aos seis anos de idade, Francisco Sá, o homem, recebera da vida tremendo golpe quando seu pai, o fazendeiro Francisco José, no ano de 1868, com apenas 36 anos veio a falecer.
Ficara aos cuidados de sua mãe Dona Agustinha Josefina Vieira Machado dos Santos Sá, que arregaçou as mangas e procurou suprir a ausência do pai dotando-o de todo conforto, educação, disciplina que viriam a ser fatores determinantes em sua carreira de surpreendente sucesso. Na fazenda Brejo de Santo André o Dr. Francisco Sá passara toda a sua infância e parte de sua adolescência quando finalmente se deslocou para a Capital da Republica, Rio de Janeiro, tendo primeiro passado por Belo Horizonte, para concluir seus bem-sucedidos estudos.
-A formação Política do Dr. Francisco Sá, o homem, veio de berço. Seu avô Francisco era ferrenho Republicano e abolicionista.
-Enquanto Ministro da Viação Transportes e Obras Públicas, Francisco Sá, o homem, deitou dormentes sobre os quais repousam centenas de quilômetros de trilhos por onde antes escoava quase toda riqueza produzida nos mais inatingíveis rincões do Norte das Gerais. Timidamente foram surgindo ao redor das estações de trem, povoados que posteriormente se transformaram em grandes e progressistas Cidades. Tudo isso graças a força de suas marias-fumaça a carvão, que depois foram substituídas pelas locomotivas atuais, hoje quase inexistentes. Em homenagem ao grande Brasileiro que foi o Dr. Francisco Sá, o homem, a Cidade do Brejo das Almas em cujo Município nascera, orgulhosa de sua grande inteligência, humildade (pois mesmo tendo nascido em berço de ouro, atingido o mais elevado status social), jamais deixou de se apresentar como “brejeiro”, inclusive em certa ocasião, intrigados, perguntaram-no porque tanta “brejeirice” quando ele respondeu que a divina providência assim o denominou quando o fez nascer no “Brejo de Santo André”, no município do também brejo, o “Brejo das Almas”. Que tantos brejos em sua vida eram suficientes para não deixa-lo esquecer de onde viera. Hoje o Brejo das Almas orgulhosamente ostenta o nome de Francisco Sá, que lhe fora dado pelo Decreto-lei estadual nº 148, de 17-12-1938.
Inté
Enoque Alves Rodrigues, atua nas áreas de Engenharia Civil, Pesada e Obras de Artes, Montagens Industriais e Grandes Estruturas.
Saibam mais sobre o Brejo das Almas visitem o site: http://citybrazil.uol.com.br/mg/franciscosa/index.php

quinta-feira, 3 de junho de 2010

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO - FINAL

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO - FINAL

Enoque Alves Rodrigues

Subindo mais adiante em direção a serra do Catuni, antes de se chegar a estrada de Cana Brava, o viajante era presenteado pela mãe Natureza com vista panorâmica indescritível ao passar pelo que antes se denominava ‘vale das barrigudas ou paineiras”. São, para quem não conhece, árvores frondosas, de copas fechadas, que possuem estas duas denominações devido que a primeira se explica por seu caule grosso, podendo chegar a um metro de diâmetro, com grandes saliências principalmente ao meio dando-lhe o formato de barriga. Enquanto que a segunda denominação está respaldada no fato de que seus frutos, quando secos, liberam a paina, algo em forma de algodão, muito utilizada naqueles tempos para o enchimento de colchões e travesseiros. No tronco da paineira há uma incidência enorme de espinhos. Suas flores são brancas e róseas e os frutos aparentam a um mamão que ao contrário do mamoeiro, estes ficam pendurados nas galhas feito pinhas e não no caule. A árvore da paineira pode passar facilmente dos 15 metros de altura.
Depois do vale, caminhando um pouco mais se chegava ao “pé na cova”. Era um velho bar que ficava em frente ao cemitério do Brejo. Ali, não somente os bebedores contumazes mas muita gente importante do lugar ia para degustar a melhor pinga do sertão do norte mineiro. Para lá se dirigiam também nas altas madrugadas, boêmios vindos do famoso “Rancho da Lua” , acompanhados, muitas vezes, por Rogério da Costa Negro, que após pagar-lhes várias rodadas, retirava-se com a mesma fineza e educação de sempre.
Havia naquele bar pinga para todos os gostos e bolsos. Não me aterei as marcas que eram muitas mas as formas e modalidades de certas exposições que muitas dúvidas pairavam sobre minha mente infantil de antanho. Não entendia, por exemplo, porque razão a grande maioria dos fregueses daquele estabelecimento, muitos vindos de Salinas, Grão Mogol, Taiobeiras e outras regiões distantes, preferiam quase que sempre a cachaça, em cuja garrafa, branca e cristalina, repousava, à curtir durante sabe-se lá Deus por quanto tempo, uma longa e agora inofensiva cobra coral. Faziam fila para bebê-la. Enquanto as outras garrafas contendo frutas, raízes e outras iguarias eram moderadamente solicitadas, as com as cobras eram pedidas por berros desesperados:
-Zefa, cadê a branquinha, da coral que picou o coveiro que eu pidi procê há “meia hora”?
-Carma, Tonho, qui ocê me pidiu num faiz nem um minuto e eu tenho qui servi os outro tamém, home! Eu num tenho quatro mão!
-Dizia outro:
-Apusquê ocêis num trais mais povo pra atendê nóis, Diabo?
-Dá um tempo aí, Jazão, qui nóis vai atendê ocêis todo! Dizia a cansada e esbaforida Zefa!
-Cuma cana tão gostosa qui nun tem quem serve! Resmungava outro no canto do Bar.
Ao contrário das outras cachaças que eles, sempre antes de solver o conteúdo do copo, “davam o primeiro gole para o Santo”, costume este adotado até hoje em grande parte do Brasil e que consiste em jogar fora o que seria o primeiro trago, no caso da pinga com cobra coral eles não jogavam nada fora. Não ofereciam nada pro Santo, que, coitado, ficava muito triste e decepcionado!
Depois da bebedeira, de muitas doses de pinga com cobra, iam todos rumo ao Centro do velho Brejo das Almas e se embrenhavam nos cabarés e inferninhos de então.
-Nem mesmo assim, minha mente brejeira de pequeno infante conseguia assimilar os motivos daquela euforia toda. Tempos depois, o grande senhor da razão, se encarregava de me explicar: A pinga com cobra coral curtida dentro da garrafa era consumida à guisa de afrodisíaco, ou seja, era ela naqueles longínquos tempos o “Viagra dos pobres”.
Inté!
Enoque Alves Rodrigues é divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas e atua nas áreas de Engenharia Civil, Pesada, Obras de Artes, Montagens Industriais e Grandes Estruturas.
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