quarta-feira, 21 de abril de 2010

FATOS E PERSONAGENS DO ANTIGO BREJO DAS ALMAS – 4

 Manhã ensolarada de um Domingo qualquer do mês de Dezembro. Coisa rara em Sampa que aquela época se intitulava “a terra da garoa”. Em meu alojamento que se encontrava no primeiro andar da obra em construção, me via cercado por centenas de apostilas. Eram do curso Supletivo, pois tendo eu retomado os meus estudos aqui, não havia outra maneira de recuperar o tempo perdido senão através dos famosos “intensivões”. Fiz o primeiro e o segundo graus em uma das melhores escolas daquela ocasião, a qual ficava no Bairro da Liberdade.
Adiantamento no bolso, única oportunidade no mês em que me sobrava alguns “tostões” para uma simples “farra” como almoçar na antiga “Sopa Paulista”, que ainda hoje, só que com outra roupagem bem mais modesta, permanece na Avenida São João, aqui no centro de São Paulo, onde eu, quando podia, ia saborear um franguinho à caçadora, preparado pelo Chinês, “Seo Woo Shon”, cujo prato, além de demasiado saboroso, era também o mais barato do cardápio e aproveitava para ir assistir um filme "bang-bang", no antigo e não mais existente "Cine Sacy", na Rua Formosa. Eis que, inesperadamente,  chega o colega "Peão" Badú. Ele morava também nos alojamentos da Obra, só que nos andares de cima, já que o primeiro andar, onde ficava meu alojamento, era destinado aos Setores de administração da obra, como almoxarifados, apontadoria, engenharia, alojamentos do pessoal administrativo, etc. Eu era apenas ajudante, mais um ajudante “muito especial”, pois eu era “cachimbo” do Mestre “Seo Zé Ivan”, Paraibano de quatro costados. Quais eram, afinal, as atividades de um “cachimbo de Mestre de obras”? Explico: eu era aquele sujeito que além de fazer todas as atribuições de um ajudante. –Vocês viram na pauta anterior eu empurrando “gericas de concreto”-, ainda, devido ser eu à época um dos poucos ali, que sabia ler e escrever, era, sem nenhum outro privilégio a não ser o do alojamento na administração, convidado nos finais de expedientes pelo Mestre “Seo Zé Ivan”, a escrever o que ele me ditava em nossas percorridas pelo canteiro de Obras. Curiosamente, o Mestre “Zé Ivan” não me tratava pelo meu nome de batismo. Ou seja, por Enoque ou “Noquinho” como os demais. Ele me chamava de “Zé Agusto”. Sim, a grafia “Agusto” está correta. O ilustre Mestre, não obstante ser o “degas” na atividade de gerir uma construção (muitos foram os estagiários de Engenharia que passaram pelas suas competentes mãos), era analfabeto, coitado, de nascença, pai e mãe, além de possuir a língua presa ao céu da boca, que muito lhe dificultada o falar. Intrigado, perguntava-lhe eu às vezes: Mais porque “Zé Augusto, querido Mestre”? . Respondia-me: Porque você é muito parecido com o cantor “Zé Agusto” que faz sucesso na televisão, no programa do Silvio Santos, cantando a música “De que vale ter tudo na vida...De que vale a beleza da “fulô”...Se eu não tenho mais seu carinho...Se eu não sinto mais teu calor!” Claro que jamais tive eu qualquer semelhança com o Cantor deste grande sucesso que era só o que se ouvia nas rádios de então. Mais quem era eu para questionar, tentar convencer ou contrariar o Mestre “Zé Ivan”? Perfeito, grande Mestre, dizia-lhe eu: Já que é vossa vontade que eu me sinta parecido com o Cantor José Augusto, tudo bem. Só lhe imploro que não me peça jamais para cantar! Pois ao contrário do que dizia a linda música, da vida eu não tinha nada a não ser a vontade de lutar e vencer e até aquela ocasião, nenhum grande ou pequeno amor tivera eu de cuja perda teria que lamentar... O Mestre sorria com seu cigarro de palha e fumo de rolo preso aos dentes...
Ok, “Zé Agusto”, pegue sua prancheta e vamos logo percorrer a Obra. Ele ia ditando. “Anota ai, Zé Agusto”. Capricha na letra porque isso ai vai para o “Diário de Obras” que é lido pelo “Dr. Dirceu” –naqueles tempos engenheiro era tratado por doutor-. “Chapisco no teto do 10º ao 12º andares”... “Armação de ferragens e formas dos pilares do 14º andar”...”Enchimento das vigas de arranque da garagem do térreo”...”Tamponamento das bocas das lixeiras dos andares 4º ao 7º”...”Inicio da alvenaria com tijolos baianos no 8º andar e amarração com tijolinhos comuns”... “Aplicação de massa corrida nos tetos dos 2º e 3º andares”, etc. Ah, não se esqueça. Anota ai: “fartaram” hoje, quatro peões, sendo dois "meia cuié" (meio oficial de pedreiro), um “selvente” e um “carapina” (carpinteiro). “Deve ser os pileques do final de semana”! Falando nisso, você bebe, “Zé Agusto?”... Não, Mestre, jamais bebi! Você é que faz bem, bom menino... Pinga é a perdição de “carqué home!”, dizia-me.
Bem, voltando á visita de Badú, ele viera até meu alojamento para bondoso como era, me responder algumas das muitas perguntas que eu lhe fizera naquela semana na qual não havíamos tido tempo de voltar a falar.
Pois é, Noquinho! Como hoje é Domingo e nós não “trabalha” vim aqui para lhe atualizar sobre o nosso Brejo das Almas e suas almas queridas que lá estão:
- Pra começar, seu “Dindinho” não anda muito bem e sua “Dindinha” anda meio perrengue. Talvez sejam já os sintomas da idade avançada de ambos. Pois “seo” Liberato já beira os noventa e “Sá” Justina também não fica para trás.
- Quanto as nossas queridas Professoras, faz tempo que não as vejo, Noquinho. Desde que nos mudamos para a Cidade de Francisco Sá, não retornei mais a casa delas. Mais eu acho que está tudo certo, porque se alguma coisa de ruim tivesse acontecido com elas, com certeza eu já saberia.
- Sobre o pessoal que vive lá “dentro do Brejo”, eu posso lhe dar todas as informações que você me pede, pois, nada mudou no nosso “Brejo”. Por incrível que pareça, ele continua do mesmo tamanho. Dessa forma, vejo todos os seus personagens todos os dias. Exceto os “Silveira”, que como você sabe, desde há muito que se mudaram para Montes Claros. E você sabe, “atravessou o rio verde grande, dificilmente volta!”.
- O Bar “estica o braço” do “seo” Neuzão, Noquinho, não existe mais. Parece que ele teve umas desavenças familiares e o pobre tem passado a maior parte do tempo cabisbaixo, meditabundo, sei lá!
- Quanto a Pensão da Dona Quino, continua muito movimentada. É um comércio muito “rendoso”, pois, como você sabe, nossa cidade ainda não tem uma Rodoviária e todos os motoristas e passageiros que vem de Salinas, Taiobeiras, Grão-Mogol e outras da região fazem ponto lá. A Dona Quinó está muito bem de saúde e lhe manda muitas lembranças. Ela ás vezes se põe a recordar de quando você partiu rumo a São Paulo e do que ela lhe disse. É muito bom Noquinho, ser querido por pessoas que nem parente sua é.
- A respeito daqueles nossos amigos, aos quais à maioria, chamava de “loucos”, mais que na verdade, de loucos não tinham nada, estão todos muito bem. Roberto Carlos do Mato, que é o piorzinho deles, é que não anda muito bem. Voltou a ter aqueles desmaios epiléticos, mais é passageiro...
-Uái, Sô, disse-lhe eu: Que desmaios são estes. Jamais os tivera antes. Ao menos que eu saiba.
- Tinha, sim, Noquinho. É que nós nunca podemos saber tudo das pessoas!
- E “Zezim tocador?”.
- Não anda muito bom não, Noquinho! Já não faz mais as “famosas garrafadas” e já não se anima mais a ir para as fazendas “expulsar cobras”, porque, parece que os espíritos já não o atendem mais. Da Outra vez foi lá na Fazenda Vaca Morta...Subiu no mourão da porteira. Deu suas ordens em voz alta para que as cobras saíssem e, sabe, Noquinho. Não saiu uma cobra sequer. Perdeu a “otoridade sobre elas”. Elas não o respeitam mais. O que resta agora do “Zezim tocador” é seu cão que continua lhe prestigiando com seus latidos enquanto toca a sanfona... Mais sabe, Noquinho. Até isso não tem mais a intensidade de antes!
- E sobre os dois riachos, Badú, o que você me diz?
- É triste, Noquinho, mais eu tenho que falar. As águas dos dois riachos onde íamos tomar banho já não são mais claras e azuladas como antes. Parece que andaram “mexendo” lá na cabeceira deles, pois á água agora vem meio que barrenta. E nem precisa chover para que isso aconteça.
- E a Serra do Catuni?
- Bem, Noquinho. Essa sim, continua lá faceira e imponente com sua altitude de 900-1000 e 700-650 metros em média, inalteráveis. Assim como continua lá a nascente do rio São Domingos e outras atrações. Ela continua a varrer as ruas empoeiradas de nosso Brejo com o seu assoprar de ventos fortes, uivantes e ensurdecedores, nas tardes primaveris. Falando em rios, todos os demais leitos, salvo alguns que já secaram, continuam a trilhar as mesmas trajetórias: ribeirão de cana-brava, pau preto, do brejão, o mamonas, o quem-quem, traçadal, o rio boa vista, vaca-brava, córrego dos patos, o caititu, da prata e o córrego rico. O rio gorutuba que continua a formar em seu leito lindos blocos de areia e o que para nós é o maior de todos, o rio verde grande que, viu, Noquinho, continua sendo o marco divisório de nosso município, ou seja, Francisco Sá, “Brejo das Almas” do de Montes Claros.
- Você não me perguntou, mais eu vou lhe falar: Lembra-se da “Lagoa da Barra” que fica na Fazenda de mesmo nome?
- Lembro-me, perfeitamente! Uai, o que aconteceu com a Lagoa da Barra?
- Nada! Continua, também lá. Só que sem peixes!
- Uái, sô. E para onde se foram os peixes?
- Sei, não, Noquinho!
- E O Clube Campestre? Perguntei-lhe, já que me falava da Lagoa da Barra!
- Continua lá! Mais pobre não entra! Somente a nata mais abastada que vem de Montes Claros. Lá, “proleta” não pode nem chegar perto.
- Ah, outra vez eu estava me esquecendo: A sua tia Cota, o seu tio Julio e o seu primo Vadinho, donos da Fazenda Minas Novas, estão muito bem. As plantações estão muito viçosas. A colheita do arroz, alho, feijão e milho prometem ser de muita fartura. As moagens da cana já estarão começando e pelo que podemos notar, vai ser muitas rapaduras, melaço e “puxa de ciidra” que sua tia Cota vai fazer e que lamentavelmente lá não estaremos para comer.
- Badu, meu querido. Interrompi-lhe: falando em comer, lembro-lhe que hoje ´´e Domingo e um dos poucos dias em que disponho de algum no bolso. Convido-o para ir comigo almoçar no “Sopa Paulista”. É tudo por minha conta! Depois você me conta mais.
- Ta bom, Noquinho, respondeu-me. Da outra vez fui eu quem lhe interrompeu lembrando de nosso horário de retornar ao batente. Dessa vez é você quem me interrompe. Só que por um motivo muito “mais nobre” que é “comer”, já que como se falam por ai, “saco vazio não para em pé”. Vamos, então!!!
Um grande abraço “brejeiro” meus conterrâneos de Francisco Sá, ou melhor: de São Gonçalo do Brejo das Almas!!!
Inté!
Enoque A Rodrigues
De, São Paulo, SP.


sábado, 17 de abril de 2010

OLYNTHO DA SILVEIRA – MINHA TERRA E A NOSSA HISTÓRIA

Com grata satisfação registro aqui neste valioso espaço, a beleza, elegância e encanto com que o grande e inesquecível filho de nossa Querida Francisco Sá, “Brejo das Almas”, Olyntho da Silveira, recentemente desaparecido, tomado aos Céus que fora por Deus, documenta com tamanha riqueza de pormenores fatos de suma relevância de nosso antigo “Brejo” e de seus antepassados, em seu livro “Minha Terra e a Nossa História”, escrito em 1969. Membro da Academia Montesclarensse de Letras e da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, o que muito lhe orgulhava, apesar de sua peculiar e congênita modéstia, talvez tenham sido apenas estas, não obstante tão importantes honrarias, os únicos reconhecimentos que o nosso querido Olyntho, a quem não tive o privilégio de ter conhecido pessoalmente, tenha recebido em vida.
De há muito, ou quiçá, desde meus tempos pueris, sou suspeito para falar da família Silveira de Brejo das Almas. Certamente que por mais que se possa enaltecer a importância que teve todo o numeroso “Clã Silveira”, desde os tempos do velho Jacinto e sua dileta esposa Dona Maria Luiza, pais “dos eternos meninos da pena de ouro e grande tino para a escrita”, Olyntho e Geraldo Tito, para o nosso Brejo, o tempo, grande senhor da razão, ainda não se encarregou de fazer-lhes justiça, colocando-os no alto do pedestal da história dos grandes, cujo patamar lhes é de direito.
Brejeiro como eles, possuo o dom do “matutar mineiro”. Observo que, de quando em vez, surge na vida pública Brasileira, figuras deletérias, que pouco ou nada fizeram em prol de alguém ou de toda uma comunidade, mais que, como num passe de mágica, da noite para o dia, são transformadas em eternos “salvadores da pátria”, endeusados e coroados como se reis fossem, mais desprovidos de qualquer ação exponencialmente concreta em beneficio de outrem.
Os feitos da família Silveira a começar pela sua luta em busca da emancipação daquele povoado de Brejo das Almas, encravado lá nos cafundós do norte de minas, por si só, já seriam mais que dignos de todas as honrarias. Defendia com “unhas e dentes” o progresso aquela época tão distante, para aquele povo, aquela gente... Muito ao contrário do que hoje se vê, quando a grande maioria, mergulhada em cruel egoísmo e adepta do “farinha pouca, meu pirão primeiro”, os Silveira de Brejo das Almas, Francisco Sá, brigavam em nome de uma causa que se denominava melhoria coletiva sem individualismo. Ou se tinha para todos ou não se tinha para ninguém. O foco. A meta perseguida era o beneficio do povo.
Relata o grande Olyntho em seu livro, que tardiamente me chega às mãos, fatos que dão a conotação exata, respeitando o grande lapso de tempo nos quais se deram, que nos dias atuais, seria impossível de se acreditar que os mesmos venham a se repetir, com o mesmo denodo, devotamento de amor a causa de um povo e despojamento de interesses materiais. Sim, os Silveira, eram ricos “de nascença” e em nome da “causa do brejo”, muitos deles abriram mão de suas fortunas e em paralelo a sua causa, foram à luta em busca da própria subsistência. É ou não é um grande gesto de nobreza.
É isso ai, meu povo. Meus conterrâneos Brejeiros. Muitos motivos temos hoje para nos orgulharmos de nossa Cidade, de nossa gente, de nosso hino: “Do Catuni ao rio verde. Do prata ao rio do prego. És sempre rico e formoso. Só não vendo quem é cego. Brejo das Almas ou Francisco Sá. Igual a ti, outra não há...” e de tudo de bom que ela “lhes” oferece. Eu digo “lhes” porque vocês sabem perfeitamente, meus brejeiros, que há muito tempo não vivo mais ai. Mais também sabem que espiritualmente jamais me afastei do Brejo. Talvez, mesmo longe, modéstia à parte, poucos estejam tão sintonizados com o Brejo, com suas virtudes e suas mazelas, quanto eu. Por isso, como vinha dizendo, antes de nos orgulharmos de nossa linda Cidade, orgulhar-nos-emos dos nossos antepassados que a fizeram. Dos que lutaram incansavelmente para que ela hoje pudesse ser o que é. Orgulharemos dos “Silveira”, dos “Dias”, dos “Pereira”, dos “Xavier”, dos “Oliveira” de onde provêm Feliciano, dos “Mineiro de Souza”, dos “Rodrigues e Seabra” e quem sabe um dia, desculpem-me pela pretensão, mais pode ser daqui a quinhentos anos mesmo. Sou “humirde” desse pobre “Alves Rodrigues”, brejeiro, que aqui vos fala e tanto lhes “enche o saco” tamanha a paixão e entusiasmo com que discorre sobre sua Terra querida.
Um abraço brejeiro para vocês meus conterrâneos.
Enoque A Rodrigues.

sábado, 10 de abril de 2010

FATOS E PERSONAGENS DO ANTIGO BREJO DAS ALMAS - 3

Você é Mineiro?
-Perguntou-me, lá pelos idos de 1973, um peão de obras, quando trabalhávamos na construção de um grande edifício na Rua Santa Helena, em São Paulo.-
-Não, sou Montanhês, respondi-lhe-.
-Mas, Montanhês, de onde?-, voltou a indagar-me. Montanhês, porventura não é o mesmo que Mineiro? Você não nasceu em Minas?
-Bem, voltei a responder-lhe, depende da maneira como você define esses dois gentílicos. Em minha concepção a sua definição está corretíssima, mas quando digo que sou Montanhês ao invés de Mineiro, estou me referindo que tendo eu recebido a graça de ter nascido numa área geograficamente montanhosa das Minas Gerais, onde há mais montanhas que minas, me considero mais montanhês que mineiro, apesar de que também, por lá, darmos nossas “pauladinhas” com algumas minas que ali existiam e que foram o fruto da cobiça de muitos bandeirantes, tanto é verdade que minha cidade foi uma das que foram fundadas por bandeirantes, ou seja, Antonio Gonçalves Figueira, a busca do ouro, nas quebradas dos sertões do norte de minas.
-Entendi-, disse-me, outra vez o colega Peão: Você, pelo que diz é Francisco-saense, assim como eu, que inclusive conheço seus avós, e estudei com você, lá em São Geraldo, nas décadas de 50/60.
-Já que você não se lembra mais de mim, me apresento: Muito prazer. “Sou o “Badú”, filho da Dona “Dazinha” esposa do “Seo" Lau, açougueiro, e a nossa Professora era a “Dona Ana Lucília Silva Garcia”, pessoa maravilhosa, que tanta paciência tinha conosco! Depois a querida e sempre atenciosa Mestra,  “Dona Florisbela Martins Ferreira”, que apesar de à época ser ela tão jovem, era assim que a tratávamos, ou seja, o "Dona" sempre precedido do nome. Que belos tempos quando se nutria tão profundo respeito e veneração pelos que nos ensinaram os segredos do "be-a-bá e os mistérios da taboada!".  Você era tão franzino, mas era muito esperto. Lembra, Noquinho, do pé de angicos... do cemitério que ficava no fundo da Escola... das horas do recreio...das dificuldades que passávamos...Lembra?
Como não me lembraria, depois de tantos detalhes?. Passei ali, naquele povoado pertencente ao Município de Francisco Sá, “Brejo das Almas”, memoráveis momentos de minha infância entremeados por bons e maus, dentro do que se pode proporcionar uma infância “Severina”, mais muito digna, que ainda hoje repousam, indelévelmente, gravados  no recôndito de minha mente e de meu ser tudo aquilo que lá vivi. Mesmo hoje, após tanta luta que, finalmente, com toda humildade, cobriram de êxito minha trajetória profissional e financeira, olho para trás com ternura e vejo o Brejo querido de onde sai, fugindo da fome, e posso dizer para mim mesmo com toda tranqüilidade e pés no chão: "Tudo valeu a pena, Noquinho". Mas o mais importante de tudo isso, é que você conseguiu vencer na vida sem fugir às suas raizes que sempre estiveram "fincadas no brejo"!.
-Ótimo, Badú-, disse-lhe eu, vamos fazer aqui uma pequena correção para seguirmos proseando-.
-Não somos Francisco-Saenses. Somos “Brejeiros”!”. Deseja que eu justifique o porque?-
-Não, Noquinho, obrigado! Sendo eu dois anos mais velho que você, me lembro perfeitamente, de quando na escola, a professora lhe mandava fazer uma dissertação sobre “nossa cidade”, com que eloqüência você falava. O Ruim era que você não parava mais e deixava todos nós cansados...
-E os seus pais, Badu, onde estão?-
-Estão lá, no Brejo. Todos bem, Noquinho, respondeu-me-.
-E você tem ido “no Brejo”? Voltei a lhe perguntar!-
-Tenho, sim, disse-me. Inclusive retornei de lá faz 20 dias-
-Oh, meu amigo, disse-lhe eu, outra vez, quanta saudade tenho daquelas nossas plagas! Há três anos que não vou lá. Desde que cheguei aqui em São Paulo, sozinho, reiniciei os meus estudos e a minha meta é ser Engenheiro, dos bons. E você sabe que não é fácil “trabalhar, estudar e queimar lata”. Mais é assim mesmo, vou levando enquanto Deus quer-.
-Conta-me, então, Badu, sobre o “Brejo” e nossa gente!-
-E as festas de Nossa Senhora do Rosário, do Divino Espírito Santo e de São Benedito que ocorriam no mês de Setembro, ainda existem?-
-Sim, Noquinho. E por mais incrível que possa parecer, ainda continuam a acontecer no mesmo mês Setembro!-
-Uái, sô, respondi surpreso, o que há de estranho nisso?-
-É...respondeu-me-, que eles deveriam variar um pouco de mês. É muita festa para um mês só. Não sei porque lá eles prestigiam tanto o mês de Setembro.
-E os Catopés? Provoquei-o.-
Sei lá, Noquinho!
Nesse ínterim, veio-me a mente alguns dos antigos personagens do Brejo que de alguma ou outra maneira, cada qual a seu modo, ajudaram a escrever lindas historias do lugarejo:
-Como andam o “Seo” Antonio e a Dona Edith, doceiros?-
-Morreram Noquinho, sendo que Dona Edith partiu primeiro!-
-Fale-me, da linda serra do catuni, "continua com seus 650 metros acima do nivel do mar?". Do morro da maceira, dos dois riachos onde íamos nadar, dos “picolés de pinga” criados e servidos no Bar do Zé Galvão, cujos picolés só existem no Brejo, da alameda, da Praça Jacinto e Mariquinha Silveira, da pensão da Dona Quinó onde os ônibus que vinham de Taiobeiras, Grão-Mogol faziam seu ponto final, da Casa Branca e Costa Negro do velho Rogério, do Bar Estica o Braço do “seo” Neuzão onde eu passava para entregar as raízes que retirávamos do solo para ele por nas suas garrafadas com as quais serviam seu fregueses, do Bar Pé na Cova que fica quase dentro do cemitério, da casa Viena, das grandes pastagens de algodão, das imensas e infinitas plantações de alho, do Bar da Barbina, de onde observávamos toda a serra, etc...etc...etc...
É muito grande minha saudade de tudo e de todos do Brejo. Fale alguma coisa, querido Badú, sobre aqueles seres que tanto apreciávamos, como: Zezim Tocador e seu cão que sempre latia enquanto ele dedilhava sua sanfona, de Pascomiro, Feliciano Oliveira, Olyntho, Geraldo Tito e Ivonne, do Padre Silvestre Classen que nos batizou, de Antonio Benzinha, do velho Mateus e Paulo Lambreta, de Mané da Vovó, de Zé Veloso, da Dona Quinó, de Maria Bocão, da dona Carla de Benê, de Roberto Carlos do Mato, do João Banana, de Zé Trindade, de meu Dindinho Liberato e de Minha Dindinha Justina, lá na Fazenda Terra Branca, fale-me também de meu Tio Júlio, de minha Tia Cota e de meu Primo Vadinho, enfim, conta-me tudo...Necessito mais que nunca saber, para que eu possa seguir por aqui lutando até obter condições de lá retornar para abraçar e beijar a todos...
-Badú, fulminado por tantas perguntas para as quais ele certamente não teria as respostas, mas que, bondoso como era, tentava de certa forma satisfazer minhas curiosidades e desejo do saber sobre a terra querida, assim começou-.
-Sabe, Noquinho! Eu queria muito ter as respostas para tudo o que você me pergunta. Mais o grande problema é que eu não vou poder te ajudar, pois são muitas as perguntas que você me fez, que, lamentavelmente, acabaram me “canfundindo as idéias” e não sei se você sabe, mas nós estamos em nosso horário de almoço e daqui a pouco o “enxadão da obra” vai bater meio dia e você mesmo sabe que o Mestre, “Seo” Paraíba Zé Ivan, não dá moleza. Temos ainda muitas “gericas” de concreto para colocar sobre o guincho para encher a laje do 14º andar e se a gente não conseguir, não vamos receber as “horas prêmio” no fim do mês e ai, sim, Noquinho, é que você nunca mais vai poder voltar para o Brejo. Vamos trabalhar, porque senão o seu sonho de ser engenheiro é que “vai pro brejo”. Depois a gente proseia com mais tempo. Hoje com certeza não vai ser mais possível, pois vamos “ficar no serão” até tarde. Um outro dia quem sabe!!!
Um forte abraço meus conterrâneos “Mineiros”... “Montanheses”...”Francisco-Saenses”... Ou melhor. Querem saber? É esse o nosso gentílico mesmo! “Brejeeeeeeiros”. Somos nós, com todo orgulho!
Inté...
Enoque A Rodrigue, de São Paulo.
1 - Acima à esquerda, foto do morro da maceira, em francisco sá.
2 - Abaixo à direita, foto de meus avós Sr. Liberato e D. Justina.




EM TI PRÓPRIO


“De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” — PAULO. (Romanos, 14:12) Escutarás muita gente falar de compreensão e talvez que, sob o reflexo condicionado, repetirás os belos conceitos que ouviste, através de preleções que te angariarão simpatia e respeito.
Entretanto, se não colocares o assunto nas entranhas da alma, situando-te no lugar daqueles que precisam de entendimento, quase nada saberás de compreensão, além da certeza de que temos nela preciosa virtude.
Falarás da paciência e assinalarás muitas vozes, em torno de ti, referindo-se a ela, no entanto, se no imo do próprio ser não tens necessidade de sofrer por algum ente amado, muito pouco perceberás, acerca de calma e tolerância.
Exaltarás o amor, a bondade, a paz e a união, mas se nas profundezas do espírito não sentires, algum dia, o sofrimento a ensinar-te o valor da nota de consolação sobre a dor de que te lamentas; a significação da migalha de socorro que outrem te estenda em teus dias de carência material; a importância da desculpa de alguém a essa ou àquela falta que cometeste e o poder do gesto de pacificação da parte de algum amigo que te restituiu a harmonia, em tuas próprias vivências, ignorarás realmente o que sejam entendimento e generosidade, perdão e segurança íntima.
Seja qual seja a dificuldade em que te vejas, abstém-te de carregar o fardo das aflições e das perguntas sem remédio.
Penetra no silêncio da própria alma, escuta os pensamentos que te nascem do próprio ser e reconhecerás que a solução fundamental de todos os problemas da vida surgirá de ti mesmo.
Pensem nisso!
Enoque A Rodrigues

domingo, 4 de abril de 2010

A EXISTÊNCIA DE DEUS

Conta-se que um velho servo analfabeto de uma caravana, orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o rico chefe da grande caravana chamou-o a sua presença e lhe perguntou:
Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando nem ao
menos sabes ler?
O crente fiel respondeu:
Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais dele.
Como assim? - indagou o chefe, admirado.
O servo humilde explicou-se:
Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece
quem a escreveu?
Pela letra.
Quando o senhor recebe uma jóia, como ‚ que se informa quanto ao autor
dela?
Pela marca do ourives.
O empregado sorriu e acrescentou:
Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe, se foi um
carneiro, um cavalo ou um boi?
Pelos rastros - respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrando-lhe o
céu, onde a Lua brilhava, cercada por multidões de estrelas, exclamou,
respeitoso:
Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!
Naquele momento o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimosos, ajoelhou-se na areia e começou a orar também.
Pensem nisso.
Tenham uma ótima Páscoa.
Abraços
Enoque A Rodrigues



sábado, 3 de abril de 2010

O FARDO

Quando a ilusão o fizer sentir o peso do próprio sofrimento, como sendo opressivo e injusto, recorde que você não segue sozinho no grande roteiro.
Cada qual tolera a carga que lhe pertence. Fardos existem de todos os tamanhos e feitios.
A responsabilidade do legislador.
A tortura do Sacerdote.
A expectativa do coração materno.
A indigência do enfermo desamparado.
O pavor da criança sem ninguém.
As chagas do corpo abatido.
Aprenda a entender o serviço e a luta dos semelhantes, para que não te suponhas vitima ou herói, num campo onde todos somos irmãos uns dos outros, mútuamente identificados pelas mesmas dificuldades, pelas mesmas dores e pelos mesmos sonhos.
Suporta, com valor, o fardo de tuas obrigações, valorosamente, e caminha.
Do acervo de pedra bruta, nasce o ouro puro.
Do cascalho pesado, emerge o diamante.
Do fardo que transportamos de boa vontade, procedem as lições de que necessitamos para a vida Maior.
Dirás, talvez impulsivamente: "É o impio vitorioso, o mau coroado de respeito, e o gozador indiferente? Carregarão, porventura, alguma carga nos ombros?"
A resposta, no entanto, é que provavelmente, viverão sob encargos mais pesados que os nossos, de vez que a impunidade não existe.
Se o suor alarga-te a fronte, e se a lágrima visita-te o coração, é que a tua carga já se faz menos densa, convertendo-se, gradativamente, em luz para a tua ascensão.
Ainda que não possas marchar, livremente, com o teu fardo, avança com ele para a frente, mesmo que seja um milimetro por dia...
Lembra-te do madeiro afrontoso que dobrou os ombros doloridos do Diuvino Mestre. Sob os braços duros no lenho infamante, que ainda ontem na Sexta-Feira de Sua Paixão, nós Cristãos lembrávamos e reverenciávamos, jaziam ocultas as asas divinas da ressurreição para a Divina imortalidade.
Pensem nisso! Fiquem com Deus. Um grande abraço.
Enoque A Rodrigues.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

EVOLUIR SEMPRE

Calor escaldante em alguns países, frio intenso em outros, inundações, terremotos, levam o ser humano a perguntar: “Por que tudo isso?”. “Onde está a bondade Divina?”
Em fatos isolados ou não, o acaso não existe. Tudo tem a sua razão de ser.
De um lado, a evolução do Espírito, que é imortal. De outro, a da sua morada.
Os Espíritos que habitam a Terra são, na sua grande maioria, seres em desenvolvimento e aprendizado básico frente às leis imutáveis do Criador, especialmente do ponto de vista moral.
Nosso Planeta é um corpo celeste relativamente novo, cuja “maturidade” vai se fazendo aos poucos, obedecendo as leis da física, que são também obra da Providência Divina.
Estagiar alternadamente nos dois planos da vida é necessário: “nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.
Provas e expiações fazem parte desse contexto, tanto as individuais como as coletivas.
Diariamente, a cada hora, a cada minuto, muitos milhares de pessoas desencarnam no mundo inteiro. Poucos tomam conhecimento e se comovem, lembrando a fugacidade da existência material e a importância de valorizar os talentos da alma.
As grandes calamidades, tem a ver com o determinismo do Alto, que age nos fatos, e servem, também, para nos sensibilizar promovendo a solidariedade.
O reino do bem vai se instalando no seio da humanidade, ainda que de maneira imperceptível numa avaliação de poucos anos. O horror ao mal será alcançado um dia.
A lei de ação e reação está a serviço do progresso do Espírito. Essa a verdade que a fé raciocinada entende, obediente e resignada.
A lei de destruição faz parte das leis Divinas. Os flagelos destruidores fazem a humanidade progredir mais depressa, esclarece a questão 837 de “O Livro dos Espíritos”.
Tudo na criação é harmonia; tudo revela uma previdência que não desmente, nem nas menores, nem nas maiores coisas. Se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto, coloca no capitulo XVIII, item 2, do livro “A Gênese”.
E prossegue: nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Ambos esses progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o habitante.
Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado, e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a Humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens para isso concorrem pelos esforços de sua inteligência. Saneiam as regiões insalubres, tornam mais fáceis as comunicações e mais produtiva a terra.
Se no universo infinito estrelas e constelações nascem e morrem, como vêm constatando telescópios potentes como o Hubble, também na Terra a lei de destruição está associada à do progresso, levando tanto o físico como o humano a evoluir sempre.
Por isso mesmo, sabendo que a qualquer momento podemos “ser chamados” para o lado de lá, procuremos investir sempre mais e melhor no nosso desenvolvimento espiritual e moral.
Pensem nisso!
Um grande abraço. Cuidem-se.
Enoque A Rodrigues



quinta-feira, 1 de abril de 2010

CHICO XAVIER... O ESPIRITO




É certo que por mais que se tente, ninguém jamais conseguirá definir a verdadeira estatura de Chico Xavier. Vários biógrafos, escritóres e autores de renome tem se esmerado na tentativa de definir esse personagem que apesar de ser considerado por muitos de nós Espiritas a incontestável reencarnação do Professor Rivail (Allan Kardec), vivia aqui entre nós, como se um simples mortal fosse.

A humildade era uma das muitas virtudes desse estupendo ser. Durante toda sua curta existência de 92 anos. Sim, uma existência de menos de 100 anos é pouco para o muito que ele fez. Permito-me aqui não retrata-lo como espirita que sou e somos, mas, também como matéria que em algumas oportunidades, dessas que nem sempre a vida nos concede, conviveu com ele.

Francisco Cândido Xavier, ou Francisco de Paula Cândido, ou ainda "Cisco de Deus" codenome que ele as vezes se autoatribuia quando alguém pretendia lhe colocar em altos patamares nesta vida, não se esforçava para ser humilde. Era humilde de nascença! Seu caráter foi todo moldado pelas dificuldades inimagináveis. A sua preparação para a convivência auxiliadora com o próximo, principalmente com os menos favorecidos, remonta a vários séculos.

Evidente que não devemos endeusar alguém. Nem mesmo que esse alguém seja o Chico. Sabemos que nas escalas que regem o Orbe, certamente ele esteja atualmente na mais alta dimensão. Quiçá na última escala que é reservada aos Seres Puros, ou quase Angélicos.

Ai amigos, resta-nos somente pedir a Deus que nos mande, então, outros Chicos para que encarnem entre nós enquanto aqui estivermos, para que possamos ter a oportunidade suprema de colaborar com sua missão. Enquanto isso não acontece, façamos nós todos pelo menos um pouquinho. Um miléssimo do que fêz Chico. Assim tornaremos esse Mundo e seus habitantes um pouco melhor e mais humano. Temos que lançar mãos à obra desde já. Sabem porque? Segundo a fé que nos fora dada, entendemos a reencarnação como o ato de os espiritos expiarem-se de suas vidas pregressas, muitas vezes não vividas condignamente. Ou seja, o individuo tem que reencarnar quantas vezes forem necessárias para um dia atingir um estágio espiritual que o desencumba do convivio na matéria densa que é nosso corpo carnal. E se o nosso Chico já atingiu o estágio dos espiritos puros? O que faremos aqui em baixo? Somente agindo assim como ele agiu durante toda a sua vida, para termos a esperança de ao menos lá em cima poder revê-lo um dia.

Pensem nisso!

Um grande abraço, amigos.

Uma ótima Páscoa com Jesús! Sempre...Feliz Aniversário, Chico...