sábado, 8 de janeiro de 2011

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ XIV - UM POUCO DO DR. JOÃO ALVES EM MONTES CLAROS - 3

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ XIV - UM POUCO DO DR. JOÃO ALVES EM MONTES CLAROS - 3
Enoque Alves Rodrigues

O Dr. João Alves era o santo da terra, o “Bom Samaritano”, que distribuía a ciência de curar com um simples rabisco de papel. Receita dada por aquele médico – dizia o jeca – “era como água na fervura”; o doente ficava limpo de uma vez!
Certa ocasião, um “tabaréu” virou-se para ele, no consultório, e recitou o seu rosário de moléstias:
- “Pois é assim, seu dotô, a Maria sente u’a pontada danada nos peito que arresponde nas costa. Daí entonces, ela cumeça numa tremedeira, lança tudo que cumeu e num agüenta mais nem u’a gata pro rabo. Eu quiria que mecê arreceitasse u’a mezinha pra ela...”
- “Ora, Juca, nós havemos de dar um jeito na Maria. Não se incomode, pois ela ficará boa logo...” – respondeu-lhe o Dr. João Alves, carinhosamente.
Dito assim, sentou-se frente a sua mesa de trabalhos, colocou o “pence-nez”, pegou da pena e receitou a “mezinha” para a Maria. Levantando-se todo sorridente, com aquela sua maneira muito peculiar que tanto cativava qualquer um, deu um tapinha nas costas do Juca e entregou-lhe a receita dizendo-lhe:
- “Pode ficar tranqüilo... É só usar isto aqui. Até outro dia. Vá com Deus, Juca. Não se esqueça de me mandar noticias da Maria...”
O Jeca, meio acanhado, virou-se para o médico:
- “Hoje eu num tenho dinheiro pra pagar mecê...”
- “Ora, Juca, só o que me faltava” – Exclamou o Dr. João Alves, sorridente. Quem falou aqui em dinheiro? Outro dia... Quando você puder...”
- “Antonces, seu dotô, até mais vê. Deus qui pague mecê...”
E lá se foi o jeca!...
Chegando em casa, na roça que ficava em Cana Brava, pegou da receita e lembrou-se das palavras do médico: costurou o papel da receita dentro de um pedaço de pano morim, formando um “patuá”, amarrou um barbante numa das extremidades e colocou aquela “relíquia” no pescoço da Maria!
Afirmam os próprios médicos que a sugestão tem curado muita gente pelo mundo afora: dentro de dois dias, se é que levou tudo isso, a velha Maria andava pela casa toda bendizendo a hora em que Deus se lembrara de por no mundo um medico como o Dr. João Alves!
Quando algum parente ou amigo das redondezas se sentia febril ou desanimado, Juca levava o famoso “patuá” e recomendava-lhe:
- “Ô cumpade, põe isso aqui no pescoço e vai vê... É tiro e queda. É remédio de sô doto João Arves...”

De outra feita, a cidade de Montes Claros dormitava serena sob a abóbada celeste crivada de estrelas. Um tropel de cavalo, aquela hora, aproximava-se da residência do já famoso médico, arrancando fagulhas, com as ferraduras de grande rompante, no calçamento “pé de moleque” da cidade. À frente da casa, a animália parou, um homem desceu dela e amarrou o cabresto naquela arvore copada. Em seguida, bateu à porta:
- “Dr. João Alves! Dr. João Alves””
Daí a questão de minutos, a chave rangeu na fechadura e o médico em pessoa assomou à porta.
- “Que deseja o senhor?” – indagou.
- “Eu sou Antonio Ramiro, seu doutor – respondeu o desconhecido. Vim trazer uma noticia para o senhor: quando passava pelas imediações da fazenda das Canoas, notei um movimento estranho por lá. Aproximei-me. Era o coronel Marciano Alves que fora assassinado” Então, vim oferecer os meus préstimos...”
O Dr. João Alves era também um grande psicólogo. Por isso mesmo, uma centelha de desconfiança se apoderou logo dele! E tinha razão: era o próprio Antonio Ramiro o assassino de seus pais! Ele chegara, sorrateiramente, aos arredores da casa grande. Ali devia haver muito dinheiro, pois o coronel era tido como avaro e devia ter a “burra” sempre cheia. Matou o fazendeiro e sua esposa! Diziam que jogara os cadáveres no chiqueiro de porcos! Com o grunhido medonho dos suínos, a donzela acordou, viu a cena e enlouqueceu!
Muitos e muitos anos depois, aquela antiga donzelinha do solar do coronel Marciano Alves gritava da janela de sua casinha, mesmo ao lado da do famoso medico:
- “João José! João José! Pega aquele malvado!”
As carnes de seus dedos já estavam dilaceradas, apodrecidas, porque ela enrolava-os, por mania, em trapos de pano molhados em água fria!
- “Que tem você nos dedos, Dona?” – Perguntavam-lhe os meninos que passavam em frente a sua casa em direção ao Grupo Escolar.
- “Ah!... – gemia ela. São umas agulhas que aquele malvado enfiou nos meus dedos... Só tenho alivio molhando-os em água fria...”
Ela fora uma moça fina e educada! De vez em quando, surpreendia a todos com uma melodia antiga, daquelas que se cantavam nos serões da família Alves!...
Eram romances que tinham vindo de Portugal, contando os amores infortunados das castelãs...

Vejam mais em meus blogs: http://www.blogger.com/home?pli=1
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Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

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