segunda-feira, 15 de março de 2010

ESMOLA E CARIDADE

Escusam-se muitos de não poderem ser caridosos, alegando precariedade de bens, como se a caridade se reduzisse a dar de comer aos famintos, dar de beber aos Sedentos, vestir os nus e Proporcionar um teto aos desabrigados.
Além dessa caridade, de ordem material, outra existe - a moral, que não implica o gasto de um centavo sequer e, não obstante, é a mais difícil de ser praticada.
Exemplos? Eis alguns:
Seriamos caridosos se, fazendo bom uso de nossas Forças mentais, vibrássemos ou orássemos diariamente em favor de quantos saibamos acharem-se enfermos, tristes ou oprimidos, sem excluir Aqueles que porventura se Considerem nossos inimigos.
Seriamos caridosos se, em determinadas situações, nos fizéssemos intencionalmente cegos para não vermos o sorriso desdenhoso ou o gesto disprezivo de quem se julgue superior a nós.
Seriamos caridosos se, com sacrifício de nosso valioso tempo, fôssemos Capazes de ouvir, sem enfado, o infeliz que nos Deseja confiar seus problemas íntimos, embora sabendo de antemão nada podermos fazer por ele, senão dirigir-lhe algumas palavras de solidariedade e carinho.
Seriamos caridosos se, ao revés, soubéssemos fazer-nos momentaneamente surdos quando alguém, habituado a escarnecer de tudo e de todos, nos atingisse com expressões zombeteiras ou irónicas.
Seriamos caridosos se, disciplinando nossa língua, só nos referíssemos ao que existe de bom nos seres e nas coisas, jamais passando adiante notícias que, mesmo sendo verdadeiras, Sirvam só para conspurcar uma honra ou abalar uma reputação alheia.
Seriamos caridosos se embora, como circunstâncias um induzissem nos tal, não suspeitássemos mal de nossos semelhantes, abstendo-nos de expender qualquer juízo apressado e eles temerario contra, mesmo entre os familiares.
Seriamos caridosos se, percebendo em nosso irmão um intento maligno, um aconselhassemos o ritmo, mostrando-lhe o erro e despersuadindo o de o levar um efeito.
Seriamos caridosos se, privando-nos, de vez em quando, do prazer de um programa radiofônico ou de TV de nosso agrado, pessoalmente visitássemos Aqueles que, em leitos hospitalares ou de sua residência, curtem prolongada doença e anseiam por um pouco de atenção e afeto.
Seriamos caridosos se, embora essa atitude pudesse prejudicar nosso interesse pessoal, tomássemos, sempre, uma defesa do fraco e do pobre, contra a Prepotência do forte ea usura do rico.
Seriamos caridosos se, mantendo permanentemente uma norma de proceder sereno e otimista, procurássemos Criar em torno de nós uma atmosfera de paz, tranquilidade e bom humor.
Seriamos caridosos se, vez por outra, endereçássemos uma palavra de aplauso e de Estimulo às boas causas e não procurássemos, ao contrário, matar a fé eo entusiasmo daqueles que nelas se acham empenhados.
Seriamos caridosos se deixássemos de postular qualquer benefício ou vantagem, desde que verificássemos haver outros direitos mais legítimos A SEREM atendidos em primeiro lugar.
Seriamos caridosos se, vendo triunfar Aqueles cujos méritos Sejam inferiores aos nossos, não os invejássemos e nem lhes desejássemos mal.
Seriamos caridosos se não desdenhássemos nem evitássemos os de má vida, se não temêssemos os Salpicos de lama que COBREM os e lhes estendêssemos a nossa mão amiga, ajudando-os a levantar-se e limpar-se.
Seriamos caridosos se, possuindo alguma parcela de poder, não nos deixássemos tomar pela soberba, tratando, os pequeninos de condição, sempre com doçura e urbanidade, ou, em situação inversa, soubéssemos tolerar, sem ódio, como Impertinências daqueles que ocupam melhores postos na paisagem social.
Seriamos caridosos se, por sermos mais inteligentes, não nos irritássemos com Inépcia um daqueles que nos cercam ou nos servem.
Seriamos caridosos se não guardássemos ressentimento daqueles que nos ofenderam ou prejudicaram, que feriram o nosso orgulho ou roubaram a felicidade nossa, perdoando-lhes de coração.
Seriamos caridosos se reservássemos rigor nosso apenas para nós mesmos, sendo pacientes e tolerantes com as fraquezas e imperfeições daqueles com os Quais convivemos, no lar, na oficina de trabalho ou na sociedade.
E assim, dezenas ou Centenas de outras circunstâncias Poderiam ainda ser lembradas, em que, uma amizade sincera, um gesto fraterno ou uma simples demonstração de simpatia, seriam expressões inequívocas da maior de todas as virtudes.
Nós, porém, quase não nos apercebemos dessas oportunidades que se nos apresentam, a todo instante, para fazermos a caridade.
Porquê?
É porque esse tipo de caridade não transpõe as fronteiras de nosso mundo interior, não transparece, não chama a atenção, nem provoca glorificações.
Nós traímos, empregamos a violência, tentamos ou outros com leviandade, desconfiamos, fazemos comentários de má fé, compartilhamos do erro e da fraude, mostramo-nos Intolerantes, alimentamos ódios, vinganças praticamos, fomentamos intrigas, espalhamos inquietações, Nobres iniciativas desencorajamos, regozijamo -nos com um Impostura, prejudicamos Interesses alheios, exploramos os nossos semelhantes, tiranizamos subalternos e familiares, desperdiçamos fortunas no e vício nenhum luxo, transgredimos, enfim, todos os preceitos da Caridade, e, quando cedemos algumas migalhas do que nos sobra ou prestamos algum serviço, raras vezes agimos sob uma inspiração do amor ao próximo, via de regra fazemo-lo por mera ostentação, ou por amor a nós mesmos, isto é, TENDO em mira o recebimento de Recompensas celestiais.
Quão longe estamos de Possuir uma verdadeira caridade!
Somos, ainda, demasiadamente egoístas e miseravelmente desprovidas de espírito de renúncia para pratica-la.
Mister se faz, porém, que uma exercitemos, que aprendamos a dar ou sacrificar algo de nós mesmos porque em benefício de nossos semelhantes "um Caridade é o Cumprimento da Lei".
Calligaris, Rodolfo. Da obra: As Leis Morais.
Enoque A Rodrigues

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