domingo, 6 de março de 2011

AS JOIAS DO BREJO IV – NIQUINHO FARMACÊUTICO

AS JOIAS DO BREJO IV – NIQUINHO FARMACÊUTICO


Enoque Alves Rodrigues

Durante muitos anos existiu na Praça da Matriz uma velha farmácia. Era a única farmácia do Brejo. Ela se localizava exatamente numa esquina a direita de quem observasse do antigo mercado. Seu proprietário era Francelino Dias, mais conhecido como França.
No entanto, com toda certeza, o farmacêutico mais importante do velho brejo das almas, foi, sem duvida alguma, Antonio Ferreira de Oliveira, vulgo Niquinho. Homem simples e educado, polido no trato com seus semelhantes, exímio no manuseio de fórmulas medicamentosas, além de ser possuidor de vasto cabedal cultural que o permitia discorrer sobre todo e qualquer assunto no Brejo das Almas de então.
Alto, magro, meio calvo, este gigante Brejeiro exerceu ali no brejo, várias outras posições de destaque na vida cotidiana do lugarejo, além de sua dedicada lide de farmacêutico.
Uma de suas grandes proezas e prova cabal de indiscutível inteligência e amor a Francisco Sá, ou Brejo das Almas, foi o legado que nos deixou a todos, quando escreveu, a pedido da professora Maria de Jesus Sampaio, o hino a Francisco Sá, o qual, musicado que foi por Corinto Cunha, é até hoje o hino de nossa cidade, sendo sem qualquer sombra de dúvida, o que melhor a retrata, destaca e enaltece, perante os vários povos.
-“Brejo das Almas, ou Francisco Sá. Igual a ti, outro não há”- é o estribilho que mais nos orgulha em qualquer parte do Mundo. Mesmo hoje, -quando sabemos que o nosso Brejo das Almas já não é mais o mesmo, guindado que fora a condição de cidade média e progressista, que seguindo um processo natural dos centros urbanos, trouxe consigo também as mazelas que corroem os mais profundos sentimentos Cristãos e humanitários, principalmente daqueles menos favorecidos pela sorte-, não conseguimos reter  nossas lágrimas nem controlar a nossa emoção, ao ouvirmos tão lindo, maravilhoso e erudito hino. Nesse instante como que por encanto, vem-nos à mente a imagem de Niquinho, o grande benfeitor do brejo.
Esposo da senhora Cândida Peres de Oliveira, pai de muitos filhos, entre eles aquela que viria mais tarde revelar ser a que mais dele herdara os traços fisionômicos e culturais, Yvonne de Oliveira Silveira, normalista desde a mais tenra idade, escritora, poetiza e outras mil atividades nas áreas do intelecto, sendo inclusive presidente da academia montes-clarense de letras, etc., a qual ainda na adolescência viria a esposar Olyntho da Silveira, também grande escritor e poeta, filho da terra e de Jacinto e Maria Luiza, além de irmão do grande Geraldo Tito.
A vida difícil não poupa aqueles que dela tentam sobressair com força e dignidade. Com Niquinho e sua prole não foi diferente. Muito sofreu para conseguir prover sua família do sustento necessário e de uma educação esmerada. Logo cedo, para dificultar mais a sua luta, o destino abateu-se sobre a esposa da qual tivera que separar afim de que ela, em Montes Claros, seguisse tratamento de saúde, enquanto Yvonne o fazia companhia no Brejo das Almas.
Niquinho, não obstante a inteligência muito acima da média, era homem como todos nós. E como tal, possuía, além das grandes virtudes, fraquezas naturais a todos os homens e, evidentemente, estas fraquezas quase que o levaram a derrocada ainda na juventude. Muitos eram os traumas que a vida lhes trazia numa fração muito pequena de tempo. Muitas vezes sequer havia absorvido um golpe e lá vinha outro mais forte ainda. Com isso, como disse, quase naufragou na bebida onde encontrava o falso consolo. A tempo, com a ajuda dos filhos e amigos conseguiu se livrar do vicio que no entanto, deixou-lhe algumas seqüelas que viriam cobrar-lhe a fatura mais tarde e durante a velhice.
Por dez anos padecera de doença que viria a tirar-lhe a vida. No entanto, até mesmo nos momentos de dor que a enfermidade lhe imputava, jamais se lamentou da sorte. Nunca fez sequer qualquer lamentação ao seu destino cruel. Sofria calado, com força, coragem, paciência e resignação, virtudes estas próprias dos espíritos intelectualmente elevados que, de alguma forma, já não mais pertencem a esse mundinho.
Em casa de Yvonne e Olyntho, que dedicados e incansáveis lhes proporcionavam todo o conforto material e espiritual em todas as horas, veladamente, deixou esta vida partindo rumo a uma outra quiçá mais justa e menos cruel para com aqueles que a ela se dedicam com pureza de alma, ternura e muito amor ao próximo.
Assim foi, é e será Niquinho, cujo diminutivo é muito pouco para definir o quão grande foi o gigante Brejeiro Antonio Ferreira de Oliveira.
E...
Por vezes, os gigantes também tombam numa esquina qualquer da vida para volverem-se, numa próxima, mais gigantes ainda.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.


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