domingo, 21 de novembro de 2010

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ IX – MULHER BREJEIRA FINAL

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ IX – MULHER BREJEIRA FINAL

Enoque Alves Rodrigues

Voz baixa, falar pausado como quase todo mineiro, olhar faceiro e discreto. São alguns dos muitos traços que personificam e eternizam a beleza da mulher brejeira.
Maria Quitéria Rodrigues, sobre quem me referia na crônica anterior, traduzia perfeitamente todos estes atributos e virtudes.
Duas semanas após nosso primeiro e desastrado encontro, fui até a casa de sua tia Luiza para me despedir, pois estava de viagem para São Paulo, onde fixaria residência.
- Bom dia, Quitéria. Como vai?
- Bom dia, Noquinho. Tudo bem! E você, como está?
Percebi naquele momento que algo havia mudado, pois ao contrário da vez anterior, já não me chamava mais pelo apelido de “sapo”.
- Pois é, Quitéria. Passei por aqui somente para me despedir de você e de sua tia Luiza. Estou de mudança para São Paulo, aonde pretendo trabalhar continuar os meus estudos. Por aqui as coisas andam muito difíceis!
- E com quem é que você vai, Noquinho? Não me consta que sua família esteja de saída do Brejo. Você sabe, Cidade pequena, todos se conhecem. Todos sabem tudo da vida de todos.
- É verdade, Quitéria!
- Estou partindo sozinho em busca de meu destino. Jamais deixaria o brejo, mas todos sabemos que há momentos que temos que tomar certas decisões na vida até mesmo quando elas no momento nos são doloridas. Se por um lado, não gostaria de sair do brejo, por outro tenho que admitir não ver aqui grandes perspectivas para o futuro que sonhei para mim. São estes alguns dos motivos que me levaram a esta triste decisão.
- Uai, Noquinho. Qual é o tamanho dessas suas perspectivas para que não caibam aqui no Brejo? Veja: Há bem pouco tempo morávamos lá em São Geraldo, pequeno lugarejo, onde para nós o brejo era quase que inatingível, devido aos seus encantos e “grandes dimensões geográficas”. Pouquíssimo tempo depois de para cá vir, você me diz que aqui é pequeno para os seus sonhos? Quais são eles? Diga ai!
- Na verdade, querida Quitéria, não tenho grandes ambições na vida. O que eu quero é poder proporcionar uma vida melhor aos que me rodeiam. O cabo da enxada por aqui, já não dá mais camisa para ninguém.
- E lá em São Paulo, o que é que você vai fazer? Você não está pensando que vai chegar lá e juntar dinheiro com vassoura. As coisas estão difíceis em todos os lugares, Noquinho. Duvido muito que lá seja diferente daqui!
- Com toda certeza, disse-lhe eu-, mas por mais difícil que seja lá, acredito que estará melhor que por aqui.
- Veja como são as coisas do coração, Noquinho: Depois de nossa ultima conversa, parei e meditei tanto e ai cheguei a conclusão que deveria, sim, existir um algo mais entre a gente. Preparava-me para lhe falar isso, quando agora você me vem com esta noticia de viajar. É ou não é coisa do destino? Não tem jeito mesmo!
- Uai, que grande peso teria isso? Seria até mesmo para mim uma motivação a mais para seguir lutando, o saber que aqui há alguém a esperar.
- É, disse-me, Quitéria: você sabe que por aqui as coisas não são bem assim. Não tenho porque lhe esperar, pois ninguém sabe quando irá voltar. De repente chega lá, se engraça com uma Paulista e aí, adeus, Quitéria.
- Não seria tão volúvel assim. Mas pensando bem, o melhor mesmo para que ninguém saia machucado e conservar as boas amizades que sempre existiram entre nós e nossas famílias, é deixar as coisas como estão para vermos como é que ficam.
- Sendo assim, até mais ver, Quitéria!
- Até mais ver, Noquinho. Que Deus te acompanhe, “meu lindo”!
- Amém!
- Meu lindo? O que! Ouvi bem?
Não. Convencido estava o “eu franzino”, o “eu pobre”, o “eu matuto, sem instrução”, o “eu limitado a mais extrema insignificância do ser”, e que jamais “bala teria na agulha suficiente para derrubar aquele tremendo avião de beleza e formosura”. Será?
Pobre mente humana, era a minha que se atinha a coisas tão fúteis e banais da materialidade do ser, que não conseguia enxergar ali as grandes potencialidades das quais somos todos nós dotados e que as coisas e as pessoas não se medem com a régua do coração, cujas escalas, são infinitamente incomensuráveis.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.










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