domingo, 22 de agosto de 2010

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ – PEDRO CIPÓ

ASSIM ERA FRANCISCO SÁ – PEDRO CIPÓ

Enoque Alves Rodrigues

Ele era o mais temido valentão de Francisco Sá, outrora Brejo das Almas. Por onde passava semeava medo, pavor e suplicio a pacata gente brejeira. Os homens ao vê-lo a distancia, fugiam. Não respeitava sequer mulheres e crianças. Bares e demais localidades onde os brejeiros de então se reuniam esvaziavam-se com sua presença. Um simples olhar não correspondido era suficiente para que ele partisse para cima das pessoas sem dó e piedade. Muitos bravos daquela época tremiam nas bases só de ouvir o seu nome.
Pedro Cipó, assim era chamado. Pistoleiro de dedo mole que não pensava duas vezes para puxar o gatilho. Matara muitos sem qualquer motivo, se é que existe no mundo qualquer motivo que justifique que um tire a vida do outro, prerrogativa única e exclusiva do Criador do homem e de todas as coisas. Para disfarçar sua real profissão de pistoleiro, ou seja, individuo que matava por encomenda, mantinha, como fachada, uma pequena venda de frutas e cereais nas cercanias do velho cemitério de Francisco Sá, ou precisamente na Rua das Aroeiras.
Numa das muitas pendengas que arranjava com facilidade acabou por matar um rapazola, ainda imberbe, fazendeiro dos baixios da Serra do Catuni.
Certo dia, desentendera-se com o moço Donato Pinto de Magalhães, rapaz de ótima conduta. Segundo diziam, o Pedro Cipó julgou-se desfeiteado com as respostas que o Donato lhe dera, e prometia mata-lo. Corria o boato de que o pistoleiro tinha o “corpo fechado”, isto é, as armas não davam fogo contra ele e, quando isto acontecesse, as balas não lhe penetravam à pele, perito que era ele na arte da mandinga.
E se encontraram na Rua das Aroeiras, perto da casa de Pedro Cipó, que ameaçava o Donato, dizendo-lhe mais ou menos isto:
- Segura, menino, que vou lhe dar uma lição.
Mas o Donato, moleque, não quis ser mais um alvo da pontaria certeira do Negro Pedro Cipó, e sabia que, se não o eliminasse antes não se defenderia de sua traição.
Por segurança, quando Pedro Cipó marchava em sua direção, Donato, testando os poderes sobrenaturais do Negro, dá um tiro para o ar. E, tcham... tcham... tcham... Para sua surpresa. Eureka! A arma disparou. Incontinenti, sem perder um segundo sequer, dá no gatilho. E era uma vez um pistoleiro de nome Pedro Cipó...
Galgando a sua montaria que estava perto, Donato se evade do local.
No Grupo Escolar onde naquele momento o Professor Neco ministrava suas aulas, ouviram-se os tiros e a gritaria. Donato matou Pedro Cipó... Donato matou Pedro Cipó...
Todos os alunos puseram-se em debandada. Incrédulos e curiosos, queriam certificar-se de que a noticia era verdadeira. Ao professor Neco, que por ser surdo, nada ouvira daquela “revoada de petiz”, restou-lhe apenas continuar defronte ao quadro negro com seu giz a mão, a escrever a lição do dia. Ao tornar-se de frente para a “turma” para tomar-lhe a lição, apenas e tão somente vento havia. Nenhum sinal de seus pupilos. Foi muito difícil ao velho professor, entender, horas depois, o que ocorrera. Principalmente por saber que Donato, menino franzino e inofensivo, de feições franciscanas, jamais antes matara uma barata sequer.
É...
Por vezes, é exatamente de onde não se espera é que se sai. Todos são grandes e valentes o suficiente quando estão em perigo.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.

Um comentário:

  1. PARECE QUE VC CONHECIA MAIS O MEU AVÔ QUE EU,SÓ HJ FUI SABER DESTA HISTORIA !
    ASS: APARECIDA PINTO DAMASCENO

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