Enoque Alves Rodrigues
Depois de passar pela Casa do velho Mateus Gordo, o maior contador de histórias do Brejo, deparava-se, finalmente, com um descampado onde surgiam timidamente pequenos núcleos à guisa de ruas onde, minutos após, o viajante se defrontava de ambos os lados, com pequeninas e singelas casas, a maioria feitas de adobe e algumas com tijolos queimados, invariavelmente pintadas a cal e com um pequenino vaso à janela onde resistentes flores teimavam em dar o ar de sua graça ignorando o Sol escaldante e a implacável aridez daqueles confins de nosso querido sertão do norte mineiro onde está localizado Francisco Sá, ou Brejo das Almas, beldade das minas gerais.
Ali, outrora, aonde a mãe natureza que privilegiava apenas a berduega como se sua única filha fosse, iniciava, de fato, o povoado do Brejo. Era e o é até hoje sua principal rua. Por lá se entrava e saia do Brejo.
Seguindo mais adiante sem que fosse necessário caminhar muito, se chegava ao centro “nervoso” do comércio Brejeiro: constituía, na verdade, de poucas e tímidas casas comerciais onde se vendiam de tudo. Desde açougues onde as carnes de vacas, bodes, porcos, etc., eram e o são até hoje, em algumas, expostas penduradas na frente do estabelecimento, servindo de aeroporto para o pouso de moscas de passagem por aquelas plagas, até armarinhos de secos e molhados, onde se vendiam de tudo desde um simples botão a mais fina e requintada fazenda, do linho a chita, do tergal ao morim. As Lojas, onde somente tecidos vendiam, eram poucas. A maior delas a qual reinou no Brejo por longo tempo foi sem dúvida a Casa Branca e Costa Negro. Pertencia a Rogério da Costa Negro, seresteiro do Brejo, tremendo “bom vivant”, inclusive com destaque na política da região. De bem-sucedido comerciante, mas de vida perdulária, finalizou seus dias de existência septuagésima neste Orbe Terrestre na mais absoluta pobreza, mas com a cabeça erguida na dignidade que somente os grandes congênitos possuem.
A Casa Viena era outro gigante do comércio do lugar. As pharmacias ou bouticas eram raras. Apenas duas, de cujos proprietários minha mente hoje já não tão prodigiosa assim, não me permite lembrar os nomes.
A Igreja Matriz do Brejo, da qual tanto já tenho falado, lá sempre esteve. Ou seja, sábia e faceira como ela só, jamais quis sair do local mais bonito e privilegiado do Brejo que é a Praça Jacinto Alves da Silveira. Sempre permaneceu ali, de atalaia. Atenta a tudo que ocorre a sua volta. Ela é o que se pode chamar de testemunha ocular do Brejo desde a sua fundação. Ela, a Igreja Matriz com a Praça que leva o nome de seu dono se fundem. Até parece que ela, a Igreja Matriz, ali está para tomar nota de todas as ocorrências e depois as relatar ao Velho Jacinto. Mas ela, a Igreja Matriz, é vaidosa. Nas festas religiosas e dos muitos padroeiros, ela se enfeita toda. Se pinta como as lindas mulheres brejeiras, de suas melhores cores para as comemorações.
-Desculpe-me, Senhor Diretor. Não estou aqui fazendo proselitismo religioso até porque não pertenço a nenhum credo, especificamente. Pertenço, sim, a uma doutrina que não é religião, mas Ciência, da qual não pretendo jamais tentar convencer alguém a segui-la por respeitar o poder do livre arbítrio de cada um. Estou apenas discorrendo sobre o meu fascinante Brejo das Almas e algumas de suas muitas belezas.
Inté, brejeiros. Um grande abraço.
Enoque Alves Rodrigues é divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas e atua nas áreas de Engenharia Civil, Pesada, Obras de Artes, Montagens Industriais e Grandes Estruturas.
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