Quando o Padre Augusto se transferiu para a nova Freguesia, varias provações teve que enfrentar no setor da Religião e da educação do povo do Brejo ainda nos primórdios da civilização. A Igreja Matriz não passava de uma pequena capela, apenas com o corpo principal necessitando de um aumento substancial.
A medida que o tempo corria, empreendeu a sua r4econstrução e aumentou-a de um terço organizando daí por diante as festas religiosas segundo a verdadeira liturgia da Igreja Católica.
No setor educacional, com os próprios meninos de sua casa organizou uma banda de musica a que deu o nome de LIRA. Com ela, disputava torneios musicais com a banda de Montes Claros, a fim de incentivar o gosto pela arte e pelas coisas do espírito.
O Mestre José Maria, aconselhado por ele, ao se ressentir de partituras novas, incógnito, comparecia à “cidade”, ouvia os ensaios da banda local. No dia aprazado do torneio, a LIRA surpreendia a outra executando a sua própria melodia, justamente aquela que eles tanto haviam ensaiado para a derrota dos adversários!.
Com isso, o Padre Augusto incentivava o culto da arte e das letras, completando a formação intelectual de seus pupilos, pois os mesmos já tinham oficinas de carpintaria e de sapataria aonde aprendiam um oficio para a conquista do pão!
À maneira que o tempo ia correndo, cada vez mais se acentuava no Padre Augusto certos pendores sobrenaturais, principalmente o da visão espiritual.
Quase na mesma época que o Padre Augusto se transferia para o Brejo das Almas, achando-se como vigário em Teófilo Otoni, foi escolhido para coadjutor de Dom Cláudio, Bispo do Rio Grande do Sul. Foi sagrado em Maio de 1906 pelo Bispo Dom Joaquim Silvério de Souza, com o titulo de Bispo de Pentencônia.
O respeito e a veneração que o povo sentia pelo Padre Augusto, às vezes parecia até mesmo com fanatismo. Comentavam as pessoas de sua intimidade que os habitantes de Itacambira o amavam tanto que só faltavam coloca-lo num andor.
Fora tido também como um homem sem medo, pois enfrentou ele ás conjunturas mais críticas, não só em defesa de amigos, como da própria Religião.
A sua presença nos locais onde se perturbavam a ordem pública era como uma mangueira que, soltando fortes esguichos de água serenava grandes labaredas que a tudo consumiam.
Homens tidos como os mais valentes da região, dobravam a cabeça e baixavam os olhos na presença do Padre Augusto.
Haja vista o caso de Alfredo. Ele era um homem de porte gigantesco, rosto vermelho como a uma papoula, dentes cravejados de ouro e cabelos de um ruivo acobreado. Andava sempre calçado de botas marrom, em cujos calcanhares se via amarrados um par de esporas de metal amarelo, que servia de tormento às mocinhas humildes que com ele dançavam nas festas da roça. Usava um chapéu de abas largas e vestia geralmente roupas de brim káki. Os meninos o conheciam por “Alfredão”.
Quando estava porém em Brejo das Almas, acompanhado de sua turma que se compunha de vários homens a cavalo, vestidos de gibão e bem armados, as casas comerciais, na sua maioria cerravam as portas procurando as famílias também não se mostrar.
Ele descia quase sempre a porta da residência do Padre Augusto, seu padrinho, talvez o único ser neste mundo a quem não regateava a sua amizade respeitosa.
Enquanto não se embriagava, conversava muito bem: entretanto, sob o domínio dos vapores do álcool, transformava-se em outro homem, tornando-se impulsivo e porque não dizer, perigoso para os próprios amigos, que estranhava muitas vezes.
Certa noite deu-lhe na cabeça realizar um baile em casa do Padre Augusto, com quem, por isso mesmo entrara em atrito, pois como é obvio não podia o velho Sacerdote concordar com tal façanha em sua própria residência, mesmo porque ele considerava a dança “coisa do demônio”. Ele sempre dizia que em toda sala de dança, no meio dos pares que se divertem, quase sempre está o demônio, pois quem dança nunca o faz por simples distração...
Com a negativa do Padre Augusto, Alfredo, voluntarioso como era, não queria se conformar com o revés sofrido, dizendo que realizaria o seu desejo.
Em resposta, disse-lhe o velho Sacerdote:
Alfredo, sou um Padre Velho humilde, mas respeitável e que sempre o considerou: mas pense, porém. Que me curvo ante as suas ameaças. Pedir-lhe ia assim, desistir de sua idéia que estou certo, estivesse você em seu perfeito juízo, não a conceberia.
Como a uma flor que murchasse diante da luz solar, Alfredo retirou-se pisando forte nos calcanhares da bota para, dias depois pedir desculpas ao seu velho amigo e hospedeiro!...
Um forte Abraço meus conterrâneos Brejeiros. Até a semana que vem!
Enoque A Rodrigues, São Paulo, SP.
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