sexta-feira, 28 de maio de 2010

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO 5


Enoque Alves Rodrigues

Depois de passar pela Casa do velho Mateus Gordo, o maior contador de histórias do Brejo, deparava-se, finalmente, com um descampado onde surgiam timidamente pequenos núcleos à guisa de ruas onde, minutos após, o viajante se defrontava de ambos os lados, com pequeninas e singelas casas, a maioria feitas de adobe e algumas com tijolos queimados, invariavelmente pintadas a cal e com um pequenino vaso à janela onde resistentes flores teimavam em dar o ar de sua graça ignorando o Sol escaldante e a implacável aridez daqueles confins de nosso querido sertão do norte mineiro onde está localizado Francisco Sá, ou Brejo das Almas, beldade das minas gerais.
Ali, outrora, aonde a mãe natureza que privilegiava apenas a berduega como se sua única filha fosse, iniciava, de fato, o povoado do Brejo. Era e o é até hoje sua principal rua. Por lá se entrava e saia do Brejo.
Seguindo mais adiante sem que fosse necessário caminhar muito, se chegava ao centro “nervoso” do comércio Brejeiro: constituía, na verdade, de poucas e tímidas casas comerciais onde se vendiam de tudo. Desde açougues onde as carnes de vacas, bodes, porcos, etc., eram e o são até hoje, em algumas, expostas penduradas na frente do estabelecimento, servindo de aeroporto para o pouso de moscas de passagem por aquelas plagas, até armarinhos de secos e molhados, onde se vendiam de tudo desde um simples botão a mais fina e requintada fazenda, do linho a chita, do tergal ao morim. As Lojas, onde somente tecidos vendiam, eram poucas. A maior delas a qual reinou no Brejo por longo tempo foi sem dúvida a Casa Branca e Costa Negro. Pertencia a Rogério da Costa Negro, seresteiro do Brejo, tremendo “bom vivant”, inclusive com destaque na política da região. De bem-sucedido comerciante, mas de vida perdulária, finalizou seus dias de existência septuagésima neste Orbe Terrestre na mais absoluta pobreza, mas com a cabeça erguida na dignidade que somente os grandes congênitos possuem.
A Casa Viena era outro gigante do comércio do lugar. As pharmacias ou bouticas eram raras. Apenas duas, de cujos proprietários minha mente hoje já não tão prodigiosa assim, não me permite lembrar os nomes.
A Igreja Matriz do Brejo, da qual tanto já tenho falado, lá sempre esteve. Ou seja, sábia e faceira como ela só, jamais quis sair do local mais bonito e privilegiado do Brejo que é a Praça Jacinto Alves da Silveira. Sempre permaneceu ali, de atalaia. Atenta a tudo que ocorre a sua volta. Ela é o que se pode chamar de testemunha ocular do Brejo desde a sua fundação. Ela, a Igreja Matriz com a Praça que leva o nome de seu dono se fundem. Até parece que ela, a Igreja Matriz, ali está para tomar nota de todas as ocorrências e depois as relatar ao Velho Jacinto. Mas ela, a Igreja Matriz, é vaidosa. Nas festas religiosas e dos muitos padroeiros, ela se enfeita toda. Se pinta como as lindas mulheres brejeiras, de suas melhores cores para as comemorações.
-Desculpe-me, Senhor Diretor. Não estou aqui fazendo proselitismo religioso até porque não pertenço a nenhum credo, especificamente. Pertenço, sim, a uma doutrina que não é religião, mas Ciência, da qual não pretendo jamais tentar convencer alguém a segui-la por respeitar o poder do livre arbítrio de cada um. Estou apenas discorrendo sobre o meu fascinante Brejo das Almas e algumas de suas muitas belezas.
Inté, brejeiros. Um grande abraço.

Enoque Alves Rodrigues é divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas e atua nas áreas de Engenharia Civil, Pesada, Obras de Artes, Montagens Industriais e Grandes Estruturas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO 4

Enoque Alves Rodrigues
Depois de passar pelo Casarão cor de rosa do Sr. Antonio Miranda e Dona Edite, atravessar a Chácara de Sá Antonina e o Sitio de Juca Brinco, o transeunte que entrasse no Brejo das Almas vindo de Montes Claros via-se no lado direito da descida uma pequena pousada cujo dono era o velho Mateus gordo. Ali o viajante encontrava além de boa comida, pastagens vastas para seus animais e água abundante para seu banho.
Mateus Gordo era o que se podia denominar de “caboclo bom de prosa”. Pitando seu cachimbo de chifres de bode, carregado com fumo “in natura” produzidos por ele próprio em seu roçado, entre uma baforada e outra, ia vertendo histórias de seus tempos de menino em sua querida de Grão Mogol. Uma dessas histórias, presenciei-o contar por no mínimo uma duas vezes. No entanto, não obstante o interlocutor saber previamente o final de cada historia, era sempre uma sensação nova ouvi-lo contar outra vez, pois ao contrario do final que todos sabiam, cada história ele contava diferente de maneira que nós só sabíamos tratar-se da mesma história quando esta já estava caminhando para o final. Para dar veracidade a esta história ele nos apresentava sempre a “prova do crime”: uma velha e enferrujada espingarda de cano torto, quase em forma de anzol, que segundo ele dizia, era para matar onça na curva. De cócoras, no meio de uma roda de ouvintes atentos, Mateus gordo iniciava sua antiga cantilena sempre desse jeito:
-Foi lá em Grão Mogol quando eu era rapazinho e sai com meu pai para caçar veado no serrado, nas imediações da cidade. Meu pai caminhava na frente com sua espingarda de dois canos e eu ia atrás dele com minha pequena espingarda de um cano só. Eu tinha de seis para sete anos e já sabia atirar. Acertava numa cidra a um quilômetro de distância sem fazer mira.
-De repente eis que surge diante de nós uma tremenda onça pintada acompanhada de seus filhotes. Ela de tão faminta e braba que estava nem viu a gente! Foi meu pai que mexeu com ela puxando-lhe o rabo. Não deu tempo para nada! De um só tapa, ela jogou meu pai longe e partiu para cima de mim... Não dava para eu correr. Tive que encarar a fera! Afastei uns quatro metros para trás e engatilhei minha pequena espingarda de caçar passarinho. Eu pretendia com isso apenas dar um susto nela para que eu pudesse correr. Mas quem foi que disse que a maldita espingarda disparou? Eu apertava o gatilho que acionava o cão da espingarda que picotava a espoleta que não explodia para queimar a pólvora. Enquanto isso, a onça ficava em minha frente, de pé, com os dois braços abertos, como se estivesse me convidando para brigar... Não teve jeito. Joguei a espingarda fora e parti para cima dela. Engalfinhamo-nos, rolando ladeira abaixo até cairmos dentro de um riacho. Nem dentro dágua a gente se desgarrou. Nesse entrementes, meu pai que até então se achava no chão conseguiu se levantar e veio em meu socorro. Ela nem deu atenção pra ele; ao contrário, ficou mais nervosa ainda. Pegou-me pelo pescoço e quando já estava quase me enforcando, meu pai que usava rapé, se lembrou de jogar uma pequena porção na água. Foi minha salvação! Ela começou a se contorcer toda de vontade de espirrar e quando não agüentou mais pôs a cabeça para fora. Foi quando meu pai, de posse de um porrete deu-lhe uma cacetada nas fuças deixando-a tonta, quando finalmente consegui me libertar. Não foi fácil.
-E aonde é que entra nessa história a espingarda de cano torto que está em sua mão, Mateus gordo?
-Não. Ela não faz parte desta história, não mais da outra que oportunamente lhes contarei.
Inté, brejeiros!!!
Enoque Alves Rodrigues é divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas e atua nas áreas de Engenharia Civil, Pesada, Obras de Artes, Montagens Industriais e Grandes Estruturas.

domingo, 23 de maio de 2010

Por Enoque Alves - 22/5/2010 16:52:21

BRINCANDO DE DEUS?

Enoque Alves Rodrigues

Nesta semana a Humanidade foi surpreendida com a notícia de que cientistas conseguiram CRIAR, pela primeira vez no mundo, uma célula com genoma sintético, ou seja, uma bactéria a qual deram o nome de Mycoplasma mycoides JCVI-syn 1.0.
A comunidade cientifica mundial, inclusive a do Brasil, está fazendo tremendo auê em torno desse feito. São vários os depoimentos de impolutas e inquestionáveis autoridades desta área ressaltando a importância desta CRIAÇÃO para o mundo. Tanta exaltação, elogios e endeusamentos a equipe que participou desse evento que muitas vezes dão a nós, pobres e leigos mortais, a idéia de que o homem reinventou a vida!
-Não é nada disso, meus queridos. Eles não inventaram nada! Não CRIARAM absolutamente nada! O grande problema é que o verbo CRIAR está sendo utilizado para definir esse episódio, que não saberia eu dizer se propositadamente, da maneira mais incorreta possível. Nem precisa recorrer a dicionários para entender isso. Lá está registrado o verdadeiro sentido do verbo CRIAR:
“Dar existência”, “tirar do nada”, “imaginar”, “inventar”, “dar origem”, “produzir”, “fundar”, “instituir”, “começar a ter”, “alimentar”, etc.
Mas o que foi que esse cientista-empresário Craig Venter e sua equipe fizeram, então?
-Eles apenas inseriram um genoma construído artificialmente em uma célula, essa sim, CRIADA pela Natureza cuja célula passou a ser comandada por eles. Somente isso. Ou seja, para se CRIAR alguma coisa tem que se partir da estaca ZERO o que não ocorreu nesse caso, bem como, respeitando as devidas proporções, na mundialmente conhecida clonagem da Ovelha Dolly. Lembrando que para chegarem a este estágio eles realizaram investimentos bilionários em experimentos que duraram quinze anos. Esqueçam, portanto, de que o homem algum dia terá condições de CRIAR a vida, senão pelos métodos tradicionais, através da “cópula fecundativa”. Nada mais!
Não desprezemos, entretanto, o feito. Ele pode significar um importante salto para a humanidade. Mas longe de merecer a divulgação extremada que estão querendo ensejar. Desde a descoberta da Penicilina, não vemos no campo da Ciência, feitos que nos incitem a grandes comemorações. Doenças aparentemente simples, que de há muito já deveriam ter sido erradicadas e banidas do Planeta, grassam, nos dias atuais, de maneira incontrolável e inclemente, vidas humanas, ceifando-as sem dó e piedade.
A Natureza, meus queridos, não permite saltos. Na ordem natural das coisas não se queima etapas. Significa dizer que de nada adianta eles quererem “brincar de Deus”, se ainda não conseguiram sequer descobrir o básico.
-Por vezes, é preferível não acreditar em nada, que se deixar levar por calendas. Pensem nisso!
Um grande abraço.
Enoque Alves Rodrigues

sexta-feira, 21 de maio de 2010

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO 3

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO 3

Enoque Alves Rodrigues

Outrora, para quem entrava no Brejo das Almas vindo de Montes Claros, passava em frente a um casarão de cor rosa, que pertencia a família tradicional do lugar a qual conhecia de vista. Ali, naquela linda e espaçosa casa, além da paz e tranqüilidade que pareciam reinar, segundo reza a tradição, se fazia o mais fino e requintado doce daquela região. Eram vários os sabores: doce de leite, goiaba, banana, cidra, etc. Os transeuntes inadvertidos quando passavam defronte aquela casa, eram, fatalmente, surpreendidos pelos mais puros e tentadores aromas, que voláteis em forma de fina fumaça, chegavam-lhes até as narinas, penetrando no âmago, por fim atingindo o olfato de maneira, irremediavelmente “destruidora”. Era difícil resistir àquela tentação da gula. Se a boca estivesse seca, devido ao calor e poeira do Brejo, imediatamente umedecia-se. Era como se olhos d’água brotassem do estômago. Às gestantes, coitadas, que passassem por este “flagelo” sem que oportunidades tivessem de provar dessas iguarias, poderiam causar aos seus rebentos “sérios danos”. Depois de muito tempo consegui descobrir quem na verdade residia naquela casa e onde se conseguiria encontrar aqueles doces. Eram produzidos em grande escala e que tinham como destinação, creio, o comércio do Brejo. O casal que os fabricava, sobre quem já tive a oportunidade de fazer pequena e rápida alusão neste espaço em matéria anterior, era impressionantemente sensacional. Era o Sr. Antonio Miranda e a Dona Edite. Ele, um senhor naquele tempo de meia idade e sua senhora, a dona Edite, apesar de muito bem cuidada, parecia ser um pouco mais velha. Tinham muitos filhos, que via com freqüência apesar de não ter estabelecido com eles, por absoluta falta de oportunidade, elos que levassem a uma aproximação de amizade intensa.
-Subindo mais adiante, ainda no inicio da pequena ladeira íngreme, depois de atravessar o sitio do velho Mateus e cruzar uma pinguela, via-se ao longe a pequena chácara de bananas, laranjas, lima da pérsia, cana e outras culturas. Pertencia a Dona Maria Antonia ou “Sá Antonina”, senhora já com idade avançada, mais muito forte ainda, que fazia questão de acompanhar em frente a sua propriedade, os carregamentos das carroças, charretes e cangalhas ao lombo de burros. Ela, a guisa de conferir seus produtos a fim de evitar quaisquer erros de contagens e prejuízos, postava-se com uma velha tabuleta em uma das mãos e na outra segurava um pedaço de carvão com o qual registrava na tabuleta sua infalível contabilidade. Assim como a maioria dos brejeiros de antanho, “Sá Antonina”, jamais, antes estivera sequer em frente a uma Escola. Não sabia ler nem escrever.
-Sendo assim desnecessário seria também dizer que não conhecia matemática, certo? -Errado!
-“Sá Antonina” sabia contar melhor que ninguém! Só que por não saber escrever, por ter pouca familiaridade com os números, ela que não confiava em ninguém a sua contabilidade, executava suas indelegáveis prerrogativas de “contadora”, de uma maneira meio inusitada e pitoresca: Para que nada lhe escapasse às vistas, com o intuito de ficar ao nível do meio de transporte, colocava-se ao lado do mesmo, um antigo catre tecido com couros de bois, catre este, utilizado anteriormente pela “qüinquagésima geração de sua família”, sobre o qual, por ser ela pequenina ao extremo, colocava uma cadeira, contemporânea do catre, onde após organizar suas vestimentas, --uma longa saia amarrada com uma tira de tecido à cintura-, começava a fazer a contagem; era mais ou menos assim: os carregadores saiam de sua chácara por um único portão que dava na rua. Ao chegarem ali onde ela estava, paravam e punham-se a fazer a contagem. Ela, de cima, apenas observava. Quando entendia que a contagem não estava correta, fazia o infeliz carregador repeti-la quantas vezes fossem necessárias ao seu difícil e indócil convencimento. Para facilitar seu trabalho, adequando-o as suas limitações culturais, a contagem era feita invariavelmente por dúzia qualquer que fosse o produto. Dessa forma, os cachos de banana eram fracionados de doze em doze unidades inteiras. Se no final do cacho a ultima fração não alcançasse as doze unidades, ela mandava retira-la, ainda que em tal fração tivesse onze unidades. Quando ela considerava correta a contagem fazia o registro com um simples risco com o carvão na tabuleta o qual representava uma dúzia, sendo os quatro primeiros riscos na parte externa em forma de um quadrado e os dois na parte de dentro em forma de xis. Tinha ela ai em sua contabilidade seis dúzias e assim por diante.
Todos os produtos ali coletados tinham como destino certo o velho e improvisado mercado que como o descrevi na crônica anterior, mais parecia a um “ajuntamento cigano”. Vendiam-se de tudo naqueles confins dos Sertões das Minas Gerais, no nosso querido Brejo das Almas. Quando não havia por lá quem tivessem dinheiro para comprar seus produtos eles negociavam-no entre si por escambo.
-Quanto a “Sá Antonina”, tudo aquilo que ela não conseguia vender desta maneira no atacado, ela oferecia no varejo de forma simplificada que ainda hoje, não obstante o passar de tantos anos, ainda é praticada à beira de qualquer estrada em vários estados brasileiros.
-Como ela, “Sá Antonina” morasse na beira da estrada de Montes Claros – Francisco Sá, ou Brejo das Almas, montava ali às margens uma pequenina mesa de madeira tosca sobre a qual fazia a exposição de seus produtos, disponibilizados para a venda aos estradeiros. Era um sucesso!!!
-No final da subida, após passar a chácara de “Sá Antonina”, do lado esquerdo de quem seguia em direção ao centro do Velho Brejo, cercado por densas e floridas “barrigudas”, ficava o sitio do velho Juca Brinco. Mulato alto, forte, que mancava da perna direita, devido ser esta mais curta que a outra, que, segundo ele contava, era resultado de várias pelejas que tivera com algumas suçuaranas em defesa de suas criações de rezes de seus apetites vorazes. O brinco que fora inserido, compulsoriamente em seu nome, que exatamente pelo fato de a principio ele detestar, acabou “colando”, era atribuído a uma marca de nascença que possuía atrás de uma das orelhas, que, saliente, dava a aparência de brinco. Muito tempo depois, munido de infantil desejo de livrar-se do apelido que o projetara, - era conhecido como o seu Juca “Brinco”, o maior contador de histórias do Brejo-, de posse de suas parcas economias, amealhadas a duras penas com as vendas de carnes de alguns garrotinhos, que certamente não haviam sido notados pelas onças suçuaranas, rumou, aquele simpático senhor para Montes Claros. Ali chegando, procurou um dos melhores cirurgiões da velha MOC de então. Procedimentos cirúrgicos bem sucedidos, encontramos agora o nosso Juca, de retorno ao convívio de seus amigos e familiares no Brejo. Transformara-se, no entanto. Simpático, afável e cordial, traços anteriormente inerentes a sua personalidade, agora era um velho ranzinza e intoleravelmente rabugento. A molecada ao vê-lo, fugia. Os mais velhos, seus amigos o questionavam:
-Mas o que houve com você, Juca! Porque razão você está tão mudado desde que retornou de Montes Claros?
-Sabe o que é, Cardoso. Fiz a maior burrada da minha vida! Gastei toda a minha fortuna para me livrar daquele maldito brinco, por nada!
-Surpreso, Cardoso, voltou a indagar-lhe:
-Mas como por nada, Juca? Você não tem mais o brinco que tantos aborrecimentos lhe causavam. Do que é que você vai reclamar agora homem?
-Pois é, Cardoso. Parece que só você vê que eu não tenho mais brinco, porque para a maioria desses brejeiros bocós da lagoa do sapo, pinguços adoradores de “Chora Rita” e “Providência do Mangal”, eu continuo sendo Juca Brinco. Para eles, de nada valeu o meu esforço. O pior é a gozação deles, sô!
-Mas que gozação, Juca? –Outra vez, Cardoso, surpreso!
-Quando falo pra eles que retirei o brinco numa cirurgia em Montes Claros, eles fingem que não acreditam e ainda me dizem:
-“Uai, sô. -Ocê pensa qui nóis aqui é troxa! A quem ocê pensa que vai enganá, Juca Brinco? Nóis aqui bem sabe qui ocê dexô seu brinco c’um orive lá em Montes Claros, para lustrá ele procê e colocá u’a pedrinha azú aní. Qui depois ocê vai buscá para usá de novo!”
-É!!!
-Por vezes não se deve mexer com o que está quieto. As “marcas e patentes”, mesmo com defeitos de fábrica, tem que ser preservadas!
Um grande abraço, amigos.
Enoque Alves Rodrigues
Agradeço aos amigos do Brejo pela homenagem a minha simples pessoa. Apesar de não me julgar merecedor, estarei ai em Julho ou Agosto para recebê-la e abraça-los.







sexta-feira, 14 de maio de 2010

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO 2



Enoque Alves Rodrigues


Na terça-feira, dia 04/05/2009, fez exatamente um ano em que estive visitando a querida Terra que a Divina Providência designou para que eu reencarnasse na atual existência física. O querido e inesquecível Francisco Sá, ou como nós “brejeiros autênticos” carinhosamente o chamamos, “Brejo das Almas”.
Fazia muitos anos que não retornava ao meu berço natal e como pude narrar em matéria publicada neste mesmo espaço, muitas foram ás mudanças processadas ali, naquele pequeno torrão, encravado em um dos extremos do norte das Minas Gerais, no decorrer destes anos todos.
A começar pelo Largo da Matriz, que de tão lindo que se encontra atualmente, em nada se assemelha ao antigo Largo daqueles “lejanos tiempos”. Em um banco qualquer que existia ali, vestido com minha melhor roupa, enquanto aguardava o inicio das missas de domingo, celebradas por Sua Reverendíssima, o Padre Silvestre Classen, sentava-me juntamente com a “doce plebe brejeira”, meus eternos iguais, para, imaginem, fazermos o que?...
-Poupo-lhes a curiosidade, pois por mais que sejam prodigiosas vossas mentes, com toda certeza não conseguiriam adivinhar nunca. Reuníamos ali naquele local estratégico por onde todos e quaisquer viventes que entrassem ou saíssem do Velho Brejo teria que passar, para simplesmente nos deliciarmos com a “grande e inusitada descoberta”:
-Contar carros.
-Contar carros?
-O que é isso?
-Sim!
-É isso mesmo o que o amigo leitor entendeu! Pouquíssimos eram os veículos a motor naquela época no “Velho Brejo”, apesar de não se fazer tanto tempo assim, afinal não sou tão velho, que havia quem como nós ainda se dedicasse a contá-los e, muitas vezes, apenas os dedos das mãos eram mais que suficientes para tanto. Naqueles calorosos tempos que insisto, para não deixar dúvidas quanto a minha “jovial idade”, não se vão tão longe, o principal veículo que imperava por estas minhas adoráveis plagas que carinhosamente chamo de “beldade do norte de minas” eram os veículos de “tração animal”, movidos pelo mais puro combustível com o qual eram cuidadosamente abastecidos por seus donos, em seus “auto postos de origem”. Combustível este que se denominava “capim colonião”, que era encontrado com a mais absoluta facilidade em quaisquer paragens.
-Ao contrário dos possantes veículos a motor, como as jardineiras, rural, camionetas, jeeps, caminhões, etc., que sempre surgiam de um mesmo lugar, vindos dos lados de Salinas, Taiobeiras, Grão Mogol, e outras localidades nesta direção, mas sempre com passagem pelo velho Largo da Matriz e com ponto final na antiga rua principal, hoje Alameda, em frente à Pensão da Dona Quinó, - pois naquela época ainda não existia a Rodoviária-, “os veículos de tração animal”, ou melhor dizendo, carroças, charretes, carros de bois, juntas de burros com cangalhas ao lombo carregadas dos mais preciosos produtos produzidos nos mais longínquos recantos pela mãe terra, “brotavam” de todos os lados e lugares. Eles vinham carregados de alho, algodão, rapadura, banana, melado de cana, cachaça, tempero, mandioca, milho, farinha, fubá, arroz, cidra e outros. Ao chegarem ao Largo da Matriz, no entanto, o caminho deles se afunilava. Iam todos em um só rumo, ou seja, em direção ao velho e improvisado “mercado”, onde na maioria das vezes, diante das dificuldades em encontrar quem dinheiro tivesse para de suas mãos adquirir seus produtos, pois naquele tempo não era fácil se defrontar com uma “flor de abóbora” (nota amarela que valia mil cruzeiros), negociavam-nos por escambo.
Dessa forma, quem tinha arroz procurava negociar com quem tivesse feijão, óleo, querosene, sal, roupas, ou qualquer outro produto diferente do seu. E assim, aquele velho e hoje inexistente “point” se transformava em um verdadeiro “ajuntamento cigano” e a petizada menos ou quase nada favorecida, ficava ali, às espreitas, como cachorro faminto, sempre no aguardo de que alguém necessitasse de “uma força” para movimentar alguma cangalha, saco ou alforje, em troca de algumas frutas. Éramos, no entanto, demasiadamente “esnobes” e “interesseiros”. Se durante os dias úteis da semana, rezávamos e até fazíamos novena em prol do aparecimento destes “veículos de tração animal”, que, por vezes, depois de oferecermos aos seus donos a nossa “ajuda”, nos auferia, “alguns dividendos” com os quais, com toda a nossa humildade e honestidade, dávamos “um chega pra lá nas solitárias ou tênias famintas”, nos finais de semana, fugíamos deles. Até fingíamos jamais tê-los visto. Virávamos lhe a cara quando inesperadamente surgiam à frente. Aliás, aos domingos e feriados, nós, do alto de nossa “pompa”, até achávamos esses pobres veículos de tração animal, parecidos “com nada”. -Verdadeiras geringonças. Sequer olhávamos para eles quando ao longe “brotavam”. Sim, a redundância é proposital: Eles, por surgirem do nada, pareciam “brotar do solo”. Tínhamos grande “tino comercial” e sabíamos distinguir o “nosso negócio” da semana, da diversão de domingo e a nossa diversão era contar os “carrões” de então.
-Eles eram privilégios da nata mais abastadas da sociedade “Brejalmina” (gostaram do gentílico?) Em sua grande maioria, políticos, grandes fazendeiros donos de importantes latifúndios ou emergentes vindos estes, não sei de onde, uma vez que no Brejo daqueles tempos, quem nascesse rico ou pobre estava fadado a morrer em suas respectivas condições sócio econômicas hereditárias. Se você desejasse realizar o seu sonho de um futuro melhor, tinha que “fugir do brejo”. Esse foi o meu caso e de milhares de brejeiros.
-Era para todos nós, muito fácil, identificarmos naqueles tempos, a que classe social o indivíduo pertencia. Podia ele vir numa velocidade de 300 quilômetros por hora. Bastava-nos apenas e tão somente termos reflexos para identificar qual era o tipo de seu carro e “batata!!!” Se fosse jeep com tração nas quatro rodas, camioneta ou rural, de preferência sujos de lama ou barro, estávamos convencidos de que, seus donos, eram fazendeiros; vinham de suas imensas fazendas. Quando ocorria o contrário ou até mesmo se estes veículos estivessem sempre limpos, tínhamos a certeza de que seus donos eram alguns ricos que viviam no perímetro urbano do velho Brejo.
Nesse caso, os pobres veículos de tração animal, ou seja, aqueles puxados por burros, bois ou quaisquer outras espécies animálias, não recebiam de nós nenhum mísero e desprezível olhar. Eles se contorciam todos de inveja e até mesmo de raiva. Mas, fazer o que?
-Quiçá lá no fundo de seus “recônditos”, eles, pobres coitados, fizessem a clássica pergunta:
-“Mais o que é que esses desajeitados, horríveis e mal acabados carrões motorizados tem que nós não temos?”
-Uái, sô, precisa responder?
Ao contrário de seus temíveis e desiguais concorrentes que nenhum resíduos vertia senão uma quase imperceptível fumaça, os resíduos deixados por estes “pobres diabos”, de coloração esverdeada, com odor um pouco diferente que o da tradicional “gasosa”, -utilizada em seus concorrentes veículos a motor-, resultantes da “queima de seus combustíveis”, iam ficando para trás, cobrindo as ruazinhas do velho Brejo das Almas, hoje a minha, a sua, a nossa querida e encantadora Francisco Sá, Minas Gerais, Brasil, a maioria delas, antanho, de paralelepípedos ou chão batido, com um verdadeiro e sólido “tapete persa”, os quais, ao contrário dos originários do velho Oriente, nos quais muitos gostariam de por os pés, estes todos evitavam sequer passar por perto.
-Voltando a linda Igreja Matriz, localizada no não menos lindo e já acima mencionado Largo, ou melhor, na lindíssima e muito bem conservada praça cujo nome faz justa homenagem ao personagem que mais fez pelo Brejo, Jacinto Alves da Silveira, sob o qual já dediquei aqui neste espaço bem como no livro que escrevi e que ainda não quis publicar, várias páginas a respeito. Francisco Sá, não o Ministro que nasceu nos arredores, na Fazenda de Santo André e que foi responsável por levar a Estrada de Ferro Central do Brasil para o norte das Minas Gerais, mas sim a Cidade, de Francisco Sá, muito lhe deve. Talvez, não fosse ele, ela não existiria. A história é pródiga em atos de esquecimentos dos mesmos vultos que a escreveram. Jacinto Silveira é, a meu ver, um desses injustiçados.
-Achava-se a Igreja Matriz quando de minha visita ao Brejo em 04/05/2009, pintada recentemente. Adentrei-a. Agradável aroma de tinta fresca subia-me às narinas. Sentado ali, sozinho, agora homem feito, de há muito formado, que tanto lutou e muitos Mundos correu em busca de uma digna subsistência. Católico Espírita há quase quarenta anos, etc. Olhar fixo no Crucificado, retroagia-me ali, no tempo e no espaço, as despretensiosas peripécias de meus tempos de menino e as minhas furtivas idas aquela Matriz, devido meus avós pertencerem a outro Credo. Eram adventistas.
Naqueles tempos, as missas celebradas pelo Padre Silvestre eram quase que o mesmo que o são hoje as missas celebradas pelos chamados “carismáticos”. O Padre Silvestre, que minha geração conheceu sempre foi muito sério. Estatura mediana tendendo para alto, tez branca, olhos azuis, meio careca e um sorriso largo no rosto, claro, quando queria. Eram muito alegres suas missas e muitas foram ás oportunidades que tive de presenciar o querido Sacerdote incrementa-las com algumas anedotas extraídas e sempre embasadas nos Evangelhos. Daí que sua popularidade e suas missas arrastavam multidões.
-Eu tinha sete, oito ou nove anos e morava em São Geraldo, quando lá pelos idos de 1960, fui batizado pelo Padre Silvestre. A chegada dele, sempre a cavalo ou de jeep era uma festa. Por se tratar do batismo da petizada quase todos na mesma faixa etária, vestimos nossas melhores roupas e, perfilados, quase que em posição de “sentidos”, assim como o fazem os recrutas no exército, ficamos aguardando ansiosamente pela chegada do Padre. No dia anterior havia chovido muito. Não obstante, vários candidatos da região do Brejo haviam estado em São Geraldo e naqueles “belos” tempos quando na caça implacável ao precioso voto do eleitor, tudo valia, até mesmo a fartura cavalgar sobre a miséria, “rolou”, em frente a pequenina Igreja que ficava ao lado do Cemitério, um grande comício com comes e bebes a vontade. Para quem não sabe ou não mais se lembra, naqueles tempos, os apetitosos espetos de churrasco eram assados sobre uma valeta, aberta no chão a guisa de churrasqueira onde se colocavam os espetos diretamente. Sem “maiores delongas”.
Fizeram a tal valeta que em forma de serpente, sumia de vista. Assaram-se os inúmeros espetos de churrascos que suavizaram muitos estômagos famintos. Vieram os políticos e deram seus respectivos recados e finalizaram o evento. Mas ninguém se lembrou de tapar a tal valeta. Nove horas da manhã, continuava uma garoinha fria e persistente, quando eis que na entrada do lugar surge o padre com sua comitiva. Ao vê-los, pusemo-nos a rezar. A maneira que ele ia se aproximando, nós, para fazermos média, aumentávamos nossas vozes, prontos para a saudação de boas vindas.
Por vezes, o destino nos pregam peças em forma de inexplicáveis coincidências que por mais que tentamos, não conseguimos entender.
-Aliás, é um grande equivoco da humanidade que habita este Orbe de expiações e provas debitar na contabilidade das coincidências, fatos e feitos de a muito planejados lá em Cima pelos Arquitetos do Universo...-
-Pois bem, não é que no exato momento em que o Padre descia de sua montaria... Quando nós preparávamos os nossos pulmões para com grandes haustos fazermos a nossa saudação “bem vindo santo padre...”, surge ao nosso lado aquilo que em nossa imaculada inocência mais temíamos: quatro musculosos indivíduos, cada um com uma ponta de forquilha às costas e no meio delas, uma rede, com um pobre defunto a caminho do campo santo logo ali adiante! Atrás vinha sua doce e inconsolável viúva, uma senhorinha de meia idade, vestida de preto, com um terço às mãos, juntamente com sua numerosa prole de pequeninos, todos aos prantos. Acompanhavam-no até a derradeira morada. Foi, queridos amigos leitores, muito para as nossas frágeis pernas com sua ossatura ainda em formação. Ficamos estáticos. As pernas bambeavam. Nossas vozes não saiam. O Padre, que até então não havia presenciado a mesma cena que nós, não entendeu, evidentemente, nada do que estava se passando com a gente. Surpreso e decepcionado por não ter sido “saudado”, vinha em nossa direção. Olhar firme e até inquiridor, focado em nós. Queria, por certo, saber os motivos de nossas indiferenças ou talvez, dependendo de nossas justificativas, nos amaldiçoar ou, quem sabe, “negar os ritos do santo batismos aqueles “capetas em forma de guri”. Mas não foi necessário. De relance ele viu a mesma cena que nós e de imediato assimilou nossa reação. Bondoso, no exercício do verdadeiro sacerdócio, para nos tranqüilizar, abriu-nos um largo, porém tímido sorriso proferindo algumas palavras como: não se assustem. Isso é comum. Todos nós morreremos um dia. Para morrer basta estar vivo. Vocês devem ter medo é de certos vivos. Quem morre não faz mal a ninguém. Dizendo isto, pensou partir rumo ao cortejo para agora, dirigir algumas palavras de consolo à viúva. Mais ele só pensou. Pobre Padre, tão compenetrado estava em seu mister, que não viu a sua frente, a tenebrosa valeta cheia de água suja, barro, restos de espetos (só a madeira), com a boca escancarada para de uma só vez traga-lo. Não teve jeito... O querido Padre não conseguiu “brecar” a tempo. Caiu inteirinho dentro da valeta. Nós que até então estávamos tristes, com medo e meditando sobre as sábias palavras que ele segundos antes nos dissera, não conseguimos nos conter. Ao vê-lo ressurgir daquele “inferno” com seus reluzentes sapatos e sua impecável imaculada batina preta cheios de lama, pusemo-nos a rir, sem parar. Coisa de criança que Deus em Sua infinita Bondade “entende e perdoa”. A mim, por ser o maiorzinho, coube, finalmente, “fazer as honras da casa” e a primeira boa ação do dia, estendendo as minhas pequenas e tenras mãos ao santo padre grandalhão, que, agora de pé, esfregando as mãos sobre a batina como se a quisesse limpar, esbravejava:
-Mais para que diabos vocês fizeram este maldito buraco?
-Vocês não tem mais o que fazer?
-Onde estão os pais de vocês, seus diabinhos?
-Vocês não vão mais à escola?
-É isso que estão lhes ensinando lá?
-Por ser o maiorzinho, de novo, coube a mim dar as explicações que afinal não foram tão difíceis assim.
-Sabe, santo padre, é que ontem á noite estiveram aqui, em comício, Feliciano, Montalvão e outros incontáveis candidatos, pedindo votos para as próximas eleições. E esta imensa valeta foram eles que mandaram abrir para assar os espetos de churrascos com os quais encheram as nossas “pobres e severinas barrigas...”
-Uái, Noquinho, exclamou, contemporizando! – Ele me conhecia de nome. Ia sempre a São Geraldo:
-Se foi Feliciano que abriu. Está aberto! Eu entendo que ele devia ter fechado, mas deve ter se esquecido. Ele é muito ocupado. Depois como você bem disse, foi por uma causa muito nobre. Afinal, matou a fome do povo. Acrescente-se a isso que eu não me machuquei e que por isso ninguém morreu! Pobre, Noquinho, é aquele coitado que vai ali dentro daquela rede. Para ele não tem mais jeito. Tudo acabou. Assim como tudo um dia acabará para todos nós. Vamos, filho, que eu preciso me limpar para batizar vocês, pois dessa vez não vim para dormir aqui. Tenho que retornar ao Brejo ainda hoje. É muito corrida a minha vida, sabe Noquinho! Mais eu gosto disso. É a Missão que Deus me deu da qual pretendo um dia prestar contas a Ele...
Um forte abraço meus queridos conterrâneos Francisco-Saenses e Brejeiros.
Inté...
Enoque Alves Rodrigues
-Sou muito simples para me julgar merecedor de qualquer homenagem. Mesmo assim agradeço aos diletos amigos do Brejo pela lembrança de meu nome. Em Julho ou Agosto, estarei ai para vê-los e recebê-la.
Abraços
Enoque

sábado, 8 de maio de 2010

RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO - 1


RECORDAR É VIVER – REMINISCÊNCIAS DO VELHO BREJO - 1

Enoque Alves Rodrigues

Buscava nas reminiscências de meu passado algo que pudesse relatar neste valioso espaço, sem que lançasse mão dos originais do livro que escrevi “Fatos e Personagens do Antigo Brejo das Almas”, composto de 58 episódios encartados em 320 páginas, o qual ainda se encontra nos originais por não entender oportuna sua publicação agora, quando ao acessar minha caixa de entrada de e-mails:enoquerodrigues2010@hotmail.com, deparei-me com linda missiva do conterrâneo Waldemar P Dias Reis, a qual se refere ao “Fatos e Personagens do Antigo Brejo das Almas - 2”, publicado neste MontesClaros.com do dia 27/03/2010, por remeter-me a episódios de minha infância que se encontravam de certa forma adormecidos no recôndito do ser. Assim sendo peço vênia para que seja aqui publicada na integra, sobre a qual farei alguns comentários a guisa de recordação. Antes, porém, agradeço ao querido Waldemar, a quem certamente conheci em infância apesar de não nos lembrarmos, pelas palavras cordiais e incentivadoras, mais principalmente, pela riqueza de pormenores nelas contidas, fruto, evidentemente natural de uma mente privilegiada, apesar de ser o querido Waldemar, um ano mais velho que eu, o que me deixa, de um lado feliz por ele e do outro lado, com uma "pitadinha de inveja", por eu não poder dispor de uma mente assim.
Ei-la:

""Meu caro Enoque:
Sou um grande admirador de suas crônicas e contos, desde a pouco tempo, quando descobri o montesclaros.com – a partir daí tenho visto tal site, diariamente.
Você escreve e pontua muito bem. Fico ansioso para ver suas crônicas, sempre que entro no site.
Parabéns, você é um colunista convidado muito interessante.
Acho que não o conheço pessoalmente, mas sou seu conterrâneo e devo ser também seu contemporâneo. Nasci em 1952.
Você deve de ter conhecido os meus pais – Santo Lagoa (Santos Dias dos Reis) e Dona Antonia de Santo – Fazenda Vista Alegre – no Mangal. Sou irmão de Zé dos Reis, Lau, Tina, Dadim e outros que você não deve se lembrar.
(1) Enoque: Conheci seus pais, Caro Waldemar, e várias vezes estive no Mangal, na Fazenda Vista Alegre. Lembro-me de seu irmão Zé dos Reis.
Vim para São Paulo muito novo, em 1969 com apenas 16 anos. Morei próximo a estação da Luz, na rua Augusta e na região da Bela Vista, até 1983.
Daí me mudei para Jundiaí, continuei a trabalhar na Capital, até que me mudei para Limeira-SP – em 1997, onde moro atualmente.
Uma a duas vezes por ano, sempre vou visitar meus parentes na minha querida terra natal – Brejo das almas e região.
Com relação ao seu conto, abaixo – conheci pessoalmente os seus avós.
Eu era um dos mensageiros de minha mãe, que duas vezes por mês – ou até uma vez por semana, ia à casa de minha avó – Marcolina, de minha tia Dina/Teotônio e de tio Dô (Rodofino) – na região denominada Furado D’antas ou Furado do Mel, – levar melado de cana, rapadura, tijolo de cidra, batida de melado – e, outras vezes, levava laranja, manga rosa, uma manta de carne de sol – sempre com um bilhete ou carta expressando a saudade de minha mãe.
(2) Enoque: Recordo-me de todas estas pessoas mencionadas por você, querido Waldemar. Creio ter palmilhado todo o solo dessa região quando criança.
Algumas vezes minha mãe ia junto – lá pelos idos de 1962/1966, numa viagem longa, mas que não era mais que 12 Km – montados em bons cavalos. Ela tinha um cião – não sei se é assim que se escreve, mas era uma sela para senhoras montar no cavalo.
A estrada, caminho para a casa de minha avó, passava do lado da casa do Sr. Liberato, daí a minha mãe parava para conversar um pouco com a Sra. sua avó. A Tina – minha irmã, era muito amiga de uma sua tia que não me lembro o nome. A parada sempre durava mais de duas horas e, normalmente éramos servidos com delicioso café com biscoitos fritos, bolos de fubá, queijo e requeijão.
(3) Enoque: Lembro-me, perfeitamente, Caro Waldemar, como se fosse hoje, de sua avó, a Dona Marcolina “proseando” com a minha, Dona Justina, na maioria das vezes em frente a casa da Fazenda “Terra Branca”de meu avô, Sr. Liberato, enquanto o gado pastava lá na pequena serra. A minha tia de quem sua irmã, apesar de aquela época ser tão jovem, era muito amiga, é a tia “Nira”, filha mais velha de meus avós. Tia Nira, hoje com quase 90 anos, vive em Capitão Enéas, com sua irmã, minha tia “Nana”. Era costume de nossa região e família àquela época não deixar que a visita fosse embora sem que antes se tomasse café com biscoitos, broas, queijos, etc. Meus avós, e toda a sua família, como adventistas daqueles tempos, não tomavam café devido a cafeína. Eles utilizavam como café sementes de “fedegoso”, e às vezes batatas ou milho, que uma vez torrados, davam quase que o mesmo sabor do café. Eram vegetarianos radicais. Não comiam carne de nenhuma natureza.
Eu era um menino e ficava observado o Sr. Liberato – de barbas brancas e longas – lendo a bíblia com um outro Sr., também de barba. Eles eram Adventistas do sétimo dia. Foi aí que tomei conhecimento de que existiam outras religiões.
(4) Enoque: Quanta saudade me vem n’alma estas suas lembranças de meu avô, querido Waldemar! Como você consegue se lembrar de tantos detalhes assim? O outro senhor de barba ao qual você se refere chamava-se Laudelino. Não tinha nenhum parentesco, pelo menos que eu saiba, com os familiares de meu avô. Era um “irmão” adventista e vivia com eles. Não obstante serem ambos da mesma religião, divergiam entre si sobre a interpretação de alguns conceitos que concatenavam. Lembro-me, com saudades, de muitas “pelejas” que varavam noites e mais noites, daqueles dois luminares dos adventistas, nos cafundós dos sertões das alterosas. Uma dessas memoráveis “pelejas”, sobre a qual devido ao elevado grau de importância, pois “mexiam com o Criador”, na concepção deles, foi quando em 1969 o homem finalmente chegou à Lua. O irmão Laudelino, assim o chamávamos, defendia, ardorosamente, que isso era mentira. Que Deus jamais permitiria ao homem “pisar” sobre uma Obra Sua. Que tudo aquilo era falácia. Pura invenção desse pessoal que “está ai dentro do rádio” (lá não tinha televisão) para nos enganar... Já o meu avô, Sr. Liberato, “defendia a tese” de que o homem havia ido sim à Lua. Que ele não tinha nenhuma dúvida. Mas se o homem “pisou na Lua” foi porque Deus quis e com toda certeza estes astronautas serão derrubados de lá. Ai ele citava um trecho da Bíblia que nos deixava a todos de cabelos em pé. Isaias Capitulo 14, versículo 14, que dizia assim: “e subirás acima das mais altas nuvens e sereis semelhantes ao Altíssimo. Contudo, jogado serás ao inferno, no mais profundo abismo”. Imaginemos hoje, meu caro Waldemar, como a minha pobre cabeça de menino de seis anos naquela época poderia processar tudo aquilo. O “pior de tudo” é que como eu sempre estava do lado do meu avô, tinha que concordar com sua tese que naquelas alturas definia um “Deus montando suas armadilhas na Lua, há 400 mil quilômetros de altura, para uma vez lá cima, joga-los cá em baixo”!!! A verdade é que eu comentava isso e sorria, sem parar.
Minha mãe contava que os senhores seus avós promoviam uma grande festa, uma vez por ano, que durava uma semana – e falava das cabanas e dos cânticos religiosos. Dizia que era sempre muito bonito, mas eu não me lembro, deveria ser muito pequeno.
(5) Enoque: as festas das cabanas eram realmente algo que fugia aos costumes de outras famílias, não adventistas. Eram muitos bonitas. Não tenho noticia de que ainda hoje existam em algum lugar do Brasil. Creio que não.
Tenho imensa saudade daqueles tempos em que eu era o mensageiro de minha mãe. Na maioria das vezes eu ia sozinho. Ia bem cedo, sempre aos sábados – as vezes dormia na casa de minha avó ou na casa de minha tia Dina e voltava no domingo, pois tinha medo de voltar durante a tarde, por causa da mata densa e alta que escurecia a estrada.
Certa vez fui de bicicleta – um velha bicicleta que meu pai comprou para a comunidade de meus irmãos, que – a muito custo convenci a todos que “não consegui pegar o cavalo” – que eu iria na casa de minha avó, somente se fosse na bicicleta.
Foi o maior erro que pratiquei. Eu mais carregava/empurrava a bicicleta do que fui montado nela. Na descida de uma curva, a bicicleta foi para um lado, eu fui para o outro e as rapaduras ralaram pelas as pedras da estrada. Eu também chequei todo ralado na casa de minha avó.
Bom. Foi só para relembrar um pouco de minha infância pelas bandas de minha querida terra. Aliás, nossa, pois segundo o seu relato – abaixo, a estrada de que você fala é o meio de caminho para a casa de minha saudosa avó.
(6) Enoque: Exatamente. É o mesmo caminho.
As pessoas de que você fala – seu tio Júlio, Sinhozão (Sr. Jacil), Maria de Guida, dona Quinó e outras, eu também tive a oportunidade de conhecer e conviver nesse tempo.
(7) Enoque: Meu querido tio Julio e minha doce e adorada tia Cota, que eram donos da Fazenda “Minas Novas”, que fazia divisa com a Fazenda “Terra Branca”, de meus avós, através do rio, se mudaram depois para Buritizeiro e hoje vivem no Céu.
A Cana Brava, a serra da Masseira (ou maceira), a Fazenda Vaca Morta, Tabua, o Mangal, são lugares que não saem de minha mente, apesar dos 41 anos que vivo fora de lá.
É por isso que acho que temos muitas coisas em comum e, que terei imenso prazer em conhecê-lo melhor.
Fico a sua disposição e aguardo um contato seu.
Um grande abraço.
Waldemar P. Dias Reis""
Um grande e cordial abraço, querido Waldemar. Muito Obrigado pela atenção. Siga acompanhando minhas crônicas, por favor.
Alô “brejeiros”. Aquele abraço... Semana que vem falaremos mais.
Enoque Alves Rodrigues
Vide foto de meus avós em meu blog:http://enoquerodrigues.blogspot.com/2010/05/recordar-e-viver-reminisencias-do-velho.html






sábado, 1 de maio de 2010

FATOS E PERSONAGENS DO ANTIGO BREJO DAS ALMAS – FINAL

Então, Noquinho, disse-me, Badú, quase que eu ia me esquecendo de te contar: Sabia que lá no Brejo voltou a antiga corrida em busca do ouro que o Sargento Mor Jerônimo Xavier de Souza, escondeu há vários séculos, lá no Morro do Mocó, ou precisamente na Fazenda de Antonio Miranda?
Uái, sô, que conversa é essa, Badú. Todos sabem que isso jamais passou de lenda! Você não se recorda que desde nossos tempos de meninos esse assunto sempre esteve em evidência mais que de concreto mesmo, até hoje não se há nada?
Quantas vezes varamos noites em claro juntamente com inúmeros conterrâneos em nosso observatório próximo ao Cemitério, olhando para o Céu tentando ver a tão sonhada “bola de fogo azul” que segundo se noticiavam, saia sempre por detrás do Morro do Mocó e vinha subindo em direção a sua parte mais alta e, de repente... pfaft: caia exatamente nas proximidades da casa da fazenda de Antonio Miranda, abrindo uma tremenda cratera, sumindo, quase que misteriosamente, solo abaixo, o que mais atiçava a cobiça e curiosidade dos brejeiros que de enxadas, pás e picaretas em mãos, empreendiam uma perseguição frenética e implacável aquela misteriosa bola de ouro, na qual, no entanto, até hoje ninguém jamais conseguiu por a mão?
Sim, Noquinho, voltou a dizer-me, Badú: Mais dessa vez a coisa é mesmo séria. Imagina que até mesmo o Paulo Lambreta viu a tal bola descendo do Céu e no dia seguinte todos rumaram para lá. Foi uma correria danada. De lá para cá o povo não parou mais de procurar. Dá até pena, Noquinho você observar hoje a buraqueira que está a barriga do morro mais ouro que é bom até agora, “necas”.
É possível, Badu, que estes boatos estejam sendo disseminados por alguém que esteja querendo se divertir ás custas de nossa gente simples e pacata... Há quem ainda consiga ver graça em algo dessa natureza.
Pode até ser, Noquinho, mais até eu mesmo estou acreditando que dessa vez eles irão por as mãos nesse tesouro. Começo até a me arrepender de ter vindo para São Paulo. Eu gostaria tanto de estar no Brejo quando este tesouro for descoberto!!!
Quem está liderando esta corrida ao ouro da “Serra Pelada Brejeira”, Badú?
Ah, Noquinho, eu lhe digo: É tudo gente séria: Mateus Velho, Juca Brinco, Carlão da Nena, Zé Veloso, Manel da vovó, Carlinho chocro de “lagoa seca”, Janjão “do caititu”, Mariana da Mata, seu Padrinho “Rosalino e todos os seus camaradas”, Praxedes de “vaca morta”, Eunicinha e seo João “zarôio”, Bimbim e muitos outros que eu não consigo me lembrar.
Bem, disse-lhe eu: pelo que vejo a coisa é realmente séria. A nós que aqui estamos, tão distante, nos resta ficar torcendo para que eles logrem êxito nesse mais novo intento para que, quem sabe um dia, possamos lá retornar e encontrar “todo mundo rico” e o mais importante: “sem fazer muita força!”.
É mesmo, Noquinho: eu rezo tanto pela nossa gente. Peço para que Deus proteja o nosso povo brejeiro. Que os mantenha com essa fé inabalável, sempre! Que faça com que o tão cobiçado e perseguido ouro do “maldito” Bandeirante, um dia apareça. Mais, se porventura, não for possível Ele me atender, que pelo menos mande chuva para que as plantações cresçam viçosas e possam encher o nosso Brejo de fartura... O Brejeiro, Noquinho, como você sempre disse, é um caboclo que nasce predestinado a por a mão no ouro fácil do Bandeirante, lutar, tenazmente pela sobrevivência sem sair do Brejo, ou, o mais provável assim como nós e muitos outros fizeram: Largar o Brejo em busca de um futuro melhor. Para que um dia possa retornar ao Brejo em condições melhores. Não tem outro jeito, não... O homem que nasce em Francisco Sá, ou melhor, em São Gonçalo do Brejo das Almas, ou já nasce rico, e ai terá sempre o privilegio de lá permanecer, ou se nasce pobre, não lhe restando nenhuma outra alternativa, senão esperar pela “bola de fogo” do Morro do Mocó no Brejo ou “dá no pé. Cair no Mundo. Fazer rastros pela vida. Sun Paulo direto...”
Falávamos, quando, eis que de repente surge à nossa frente a “figura” do Mestre da Obra, “Seo” Zé Ivan, Paraíba. O que é que “vocêis” tanto conversam, “dois meninos?”, indagou-nos.
-Estamos aqui, em nosso intervalo, “grande mestre”, recordando do nosso “brejo”, de nossa gente...
O Mestre José Ivan da Silva Furtado, de quem já tive a oportunidade de falar aqui, era realmente uma figura. Senão vejamos:
Dois metros e seis centímetros de altura. Barriga saliente. Dois reluzentes dentes caninos cobertos de ouro os quais ficavam sempre a mostra, devido o querido mestre possuir lábios leporinos. Trajava-se à caráter, ou melhor a moda de Mazzaropi e Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, pois usava camisas folgadas, em tecido xadrez, preferencialmente remendadas, com duas grandes algibeiras, onde numa ele punha seu inseparável “romance de cordel” que por ele não saber aquela época ler, era minha a atribuição de fazer a leitura dessas obras para ele, obras estas de grande aceitação entre os nossos irmãos nordestinos de onde ele provinha. Na outra algibeira, ou seja, na do lado esquerdo, “do lado do coração”, ele colocava a foto de sua adorada, porém muito distante esposa, “Dona Sabastiana” que ficara em sua querida Campina Grande. A calça que ele usava, era sempre a famosa “arranca toco”, pois nunca passava da metade da canela. Isso muito o assemelhava ao jeca dos cafundós do Brasil tão bem representado pelo Amacio Mazzaroppi, o jeca de Taubaté, mais que na verdade, nasceu no Bairro do Brás, aqui na Capital de São Paulo. Até mesmo a forma de prender o cinto sobre a camisa “na boca do estômago” era idêntica. Nos bolsos laterais de sua calça “arranca toco”, o mestre punha do lado esquerdo, seu “patuá” onde trazia fumo de rolo picado, palha de milho para cigarro e uma não menos inseparável “binga”. Sim, não era isqueiro. Naquele tempo era binga mesmo. Consistia aquela pequena geringonça numa pequena pedra, uma barrinha chata de aço, um pedacinho de chifres com algum pó dentro. Quando o Mestre queria pitar, para fazer fogo, ele atritava a barrinha de aço na pedra sobre o chifre cujas faíscas acendiam o tal pozinho sobre o qual ele levava o cigarro. A semelhança com o Lampião estava no chapéu de couro, do qual o Mestre não abria mão, apesar da obrigatoriedade do uso de capacetes brancos para sua função, preferia seu velho chapéu que compunha de três estrelas sendo a maior delas localizada ao meio da aba quebrada do chapéu. Um tanto “sinistra” a figura do Mestre Zé Ivan, mas jamais convivi com pessoa tão bem humorada, simpática e cordial. Quando eu lia para ele nos intervalos do almoço, a “peleja de Lampião e Antonio Silvino” na tal Literatura de Cordel, quando chegava na fala de Lampião: “Minha mãe, voltei pra trás. Não fiz mais porque não pude. Deixei sangue derramado. Que dá para encher açude. Para vingar a morte de meu pai. Só quero que Deus me ajude...” O Mestre ouvia essas “balelas” com tanta atenção, compenetrado, mesmo. Como se versos fossem de Antonio Frederico de Castro Alves, o grande Poeta dos Escravos. Ao final, dava uma longa e interminável gargalhada e exclamava! “Eita que tremendo cabra-macho era esse Lampião... Tá veno, Zé Agusto. (Era assim que ele me chamava). Home de tutano e corajoso como Lampião, só se faz lá no Norte. É por isso que eu tenho muito orgulho de ser de lá...”
-E este tal de “Brejo” que vocês tanto falam, “Zé Agusto”, é um buraco ou é uma lagoa?”.
-Não, querido Mestre, Francisco Sá, ou como carinhosamente ainda hoje a chamamos “Brejo das Almas”, é uma Cidadezinha encravada em um cantinho estrategicamente reservado pelo Criador desde os primórdios dos tempos, para nos servir de berço, da qual, assim como o senhor ao se referir a sua Terra, também muito nos orgulhamos e amamos, apesar de ela ainda não nos oferecer o suficiente para que lá vivamos, ou talvez, quem sabe, são os nossos sonhos e anseios bem maiores que as nossas necessidades.
-Entendo “Zé Agusto” e Badú: As coisas na maioria das vezes não são tão “difices” assim. “É nóis que fazemo com que tudo seja ruim mais na verdade a vida é um colosso.” Sábias palavras para uma pessoa culturalmente tão simples como o Mestre “Zé Ivan”. Juntos, convivemos vários anos naquele e em outros projetos. Ao me formar, me transferi de empresa, mas levei-o comigo. Não poderia me afastar daquele Anjo de Luz e Bondade que tanto me ajudou. A duras penas consegui com que ele se alfabetizasse. Criou gosto pela leitura. Descobriu os segredos do “be-á-bá”. Aposentou-se mais não quis parar de trabalhar, apesar de ter conseguido seu pequeno quinhão que lhe permitia agora uma vida mais tranqüila. Parar, não, “Zé Agusto”. Parar enferruja e morre... Só que as suas pobres vistas, apesar de seus óculos de fortes graus, não mais correspondiam. Dessa forma tocava a mim, agora, com o peso de todo o projeto e execução de uma obra sobre as costas, seguir fazendo a “leitura do meio dia” da Literatura de Cordel, para o agora velho, alquebrado, mais eternamente amantíssimo Mestre. Era o mínimo que eu poderia retribuir a quem tanto por mim fizera. Lealdade, fidelidade, simplicidade, cordialidade, respeito e dedicação aos que um dia em uma curva qualquer do destino nos estenderam à mão, são sentimentos puros de quem deseja vencer na vida. E tome cordel de Lampião sobrepujando seu desafeto Antonio Silvino, em seu relato a sua mãe: “era ele doente. Todo levado das brecas. Não tinha força nos braços. Nem  tampouco nas munhecas. Sofria ele, paludismo. Doença que ataca o Jeca!..”
Um grande abraço brejeiro para vocês, meus queridos conterrâneos.
Inté...
Semana que vem estarei escrevendo sobre os catopês de nosso antigo Brejo.
Enoque A Rodrigues
Saibam mais sobre Francisco Sá – Brejo das Almas em meus blogs:







 
 
Francisco Sá