-“É pena... Estou aflito para retribuir tudo que meu padrinho tem feito por mim. Viajarei em seu lugar, percorrerei aquelas estradas que tanto me cativam. Ao invés dele se magoar no lombo do cavalo, assumirei a direção das Capelas do interior, onde me será facultado ainda consolar os aflitos. Mas não se pode ser Padre antes dos 21 anos... E eu terminarei o curso antes desta idade...”
A ampulheta do tempo continuava girando para o outro lado. Vieram as ordens maiores: a 20 de Junho de 1878, as ordens de Subdiácono; a 21 de Dezembro do mesmo ano, as de Diácono. Faltavam-lhe apenas poucos meses de estudos!...
Augusto Prudêncio era, então, um rapaz alto e musculoso, lábios grossos, olhos muito azuis. Usava óculos pequenos com aros de ouro. Seus mestres tinham-no como o melhor aluno e já o desejavam como colega de magistério. Disseram-lhe, certa vez os Padres Corrêa Rabelo e Geraldo Teissandier:
-“Prudêncio, com essa cultura sólida que adquiriu você está apto a lecionar em qualquer estabelecimento. Deve ficar em Diamantina, porque será aproveitado como professor”.
Voltando os olhos para ás altura do Cosmo, o jovem presbítero procurava por certo as pegadas do Divino Mestre:
-“Prefiro a região do alto norte de Minas. Ali encontrarei campo mais propício para exercer o meu ministério. Desejo me dedicar à infância abandonada e penso ser um Padre da roça...”
Aprovado, foi designado professor de latim dos cursos menores do Seminário, à espera de atingir a idade exigida para se ordenar. Enquanto isso ia pensando com impaciência no dia feliz que retornaria para rever as belezas da velha Matriz toda enfeitada de flores no dia de sua “Missa Nova...” Saudoso por reencontrar tudo aquilo que era parte integrante de seu próprio “eu”, seu coração volvia, no entanto, para os recantos amigos do Seminário que o acolhera. Ali recebera, com carinho e verdadeira dedicação, os santos ensinamentos da doutrina de Jesus Cristo, seu amado Mestre; ali lapidara as arestas do seu caráter, recebendo daqueles “titãs”, na feliz expressão de Edmundo Lins, conhecimentos que talvez lhe não propiciassem as maiores Faculdades do mundo!
O seminarista precisava naquela época de um dote para se ordenar, tal qual a noiva antiga no dia de suas núpcias!... E ele era pobre, muito pobre! Seu pai já não mais existia! Seu Padrinho, o Cônego Chaves, falecera também! Entraria no mundo como o próprio Jesus Cristo, isto é, pobre como nascera!...
Mas o próprio Jesus, que lhe dera a vocação de se abster das coisas do mundo, viria em socorro seu, dando-lhe um pedacinho de terra: um primo seu, José Rodrigues Prates, lá de longe, sentindo aquela dificuldade, deu-lhe de presente uma gleba de terra.
Durante a cerimônia da ordenação que se deu no dia 3 de agosto de 1879, ao som de belas e comoventes músicas sacras, o jovem Sacerdote volveu de novo o olhar para a imagem do Cristo Crucificado. Parecia-lhe que o mesmo fulgor de estrelas aureolavam a fronte do Nazareno e que uma voz lhe dizia lá do alto do Altar: “Este é um dia sublime em tua vida, quando volves para receber o madeiro da cruz por tua própria solicitação. Ser um bom Padre é carregar o símbolo dos delitos, emblema das provas por que tem de passar todas as criaturas. Vencido na Terra por aqueles que se comprazem com o mal, serás coroado nas amplidões siderais. Por mais pesada que seja a tua missão, nunca te faltará o auxilio do alto. Não te esqueças jamais que os mansos e humildes de coração, espezinhados e oprimidos, que levam o manto sujo ao invés do aveludado da púrpura, é que serão amanhã exaltados. Tua viagem desta vez será longa e penosa. Levanta-te!”
Como se houvera acordado de um sonho maravilhoso, tudo se transformou de novo para o jovem ordenando. Reapareceram-lhe a figura majestosa de D. João, dos acólitos e dos venerandos padres do Seminário. A voz Divina cedera lugar aos acordes da musica sacra que se ouvia do alto, a imagem do Cristo Crucificado continuava impassível, rígida e serena, presidindo o ato solene de cima do altar...
Enquanto isso, Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, ”beldade do norte de minas”, para onde o agora Padre Augusto Prudêncio da Silva se transferiria, futuramente, para ali exercer o mais puro Sacerdócio, crescia e prosperava, rodeada de seus engenhos de cana de açúcar com suas moendas de madeira e suas vastas e já naquele tempo infinitas plantações de alho, cultura esta que a consagraria, muito tempo depois como a “capital desta hortaliça”, orgulho de nós “brejeiros. Semana que vem tem mais. Um grande abraço, meus conterrâneos.
Enoque A Rodrigues, de São Paulo, SP.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
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