Sua posse como vigário foi festejada durante oito dias seguidos, recebendo a freguesia das mãos do vigário de Grão Mogol, padre Agapito. Como a paróquia não tivesse casa para residência do vigário, foi residir em companhia de Jacinto Silveira.
A história e a vida deste último não serão, no entanto, narradas nesta crônica. Pela sua ligação e amizade com o Padre Augusto, seu nome aqui aparecerá, como já aconteceu no inicio, apenas com ligeiras referências.
Enquanto o Padre dirigia o povo pelo lado espiritual, à medida que atingia o ponto de maturidade própria aos homens de bom senso e equilíbrio, ele foi alimentando e pavimentando em mente o desejo cada vez mais o desejo de emancipar o distrito.
Iniciara-se na política como correligionário do Dr. Honorato José Alves, de quem se tornara compadre e dedicado amigo. Mais tarde, com o afastamento deste para a Capital Federal, naquela época, Rio de Janeiro, permaneceu ao lado do Dr. João José Alves, ao qual dedicou, mesmo depois da emancipação do município, as suas forças políticas de valor incontestável na região. No tocante a missão que se impusera, de libertar Brejo das Almas das correias que o ligavam à Montes Claros, não era das mais fáceis, porquanto o distrito continuava sendo um foco de desinteligências e de ódios antigos, não se falando na oposição do povo da sede do município.
Ao seu lado, e por influência sua, militava o Padre Augusto que, apesar de sua bondade inata e do amparo que dava aos pobres, granjeou alguns inimigos na classe mais abastada. Assim é que foi tocaiado várias vezes, sem nenhum resultado prático, entretanto.
Para certos homens daquela era, nada mais fácil do que eliminar o adversário, pois a justiça nunca chegava até aquelas plagas. Quando aparecia um cadáver ensangüentado pelas ruas do pequeno lugarejo de Brejo das Almas, ou tomados nos paludes das estradas, o único lenitivo da família era dar enterro condigno ao saudoso parente, recebendo cada um a recomendação toda especial de nem sequer sonhar com o nome do responsável...
Armaram-lhe a primeira tocaia no local denominado “Barreirinho”, a mando de João Soares, tenente da guarda nacional. Para isso, foi contratado um terrível facínora conhecido por Antonio Bahiano, vindo especialmente do estado da Bahia. Quando o Padre Augusto se aproximava da mira da espingarda cartucheira, por intuição provinda de certos fenômenos que ainda estudaremos, sentiu que estava sendo caçado do interior do mato. Como se nada houvesse, determinou que a comitiva acelerasse a marcha, permanecendo para trás entretido na leitura do breviário.
No momento em que seria varado pela carga de chumbos, Antonio Bahiano sentiu fortes dores nos intestinos, acompanhadas de uma paralisia parcial! Trazido para o comércio, quando procurado pelo mandante, passou em seguida, durante vários dias, prostrado em uma cama, até que o Padre Augusto regressasse de Montes Claros. Ajoelhando-se então, aos pés do Sacerdote, em confissão pública, pediu-lhe perdão na presença de todos, exalando ali seu último suspiro.
A primeira escola pública de Brejo das Almas deve a sua criação ao Padre Augusto, que a construiu ao lado da casa de Jacinto Silveira. Como a esposa deste fosse normalista, a seu pedido, o Governo nomeou-a professora, abrindo assim a primeira picada no ensino primário nos sertões de Minas Gerais.
Várias gerações receberam das mãos de Dona Mariquinhas os primeiros ensinamentos. Militando por 35 anos no magistério público, nem assim o Governo do Estado soube reconhecer seu honroso e árduo trabalho, dando ao Grupo Escolar um outro nome que não o seu, negando-se a perpetuar no espírito das novas gerações o nome daquela que fora a primeira professora do lugar e a que mais tempo ali estivera à testa de uma classe!...
Em 1923, após um trabalho interno junto aos maiorais da política, foi criada a Vila de Brejo das Almas, formando um município autônomo do de Montes Claros. Os governos, entretanto, são pródigos em desculpas de exaustão das finanças públicas, para exigirem contribuições mais valiosas dos homens que lideram as comunidades do interior. O Município seria criado, sim, mas instalado quando fossem doados dois prédios ao estado, isto é, um para a Municipalidade e o outro para o Grupo Escolar! Jacinto Silveira não pensou duas vezes: Imediatamente fez as doações dos dois prédios iniciando em seguida suas respectivas construções.
Durante a construção do primeiro deles, o líder do povo de Brejo das Almas, Jacinto Silveira, sentiu pela primeira vez que seu organismo estava se ressentindo de tão árduos trabalhos enfrentados. Sua mão direita não mais queria aceitar o comando do cérebro, tornando-o quase que um inválido. O povo supersticioso por tradição, atribuía aquela moléstia “coisa feita” pelos inimigos políticos invejosos do prestigio que Jacinto Silveira gozava junto ao Governo.
Entretanto, de fundo nervoso ela se manifestava realmente quando certa vez, por qualquer motivo fútil, fora ele ameaçado de morte dentro da sua própria casa. Era esta moléstia o terrível mal de Parkinson que acabou ceifando a vida do grande homem publico de ideais empreendedores.
Um grande abraço, conterrâneos!
Enoque A Rodrigues, de São Paulo, SP.