Transcrevo aqui importante matéria publicada recentemente pela Revista Veja, na seção “carreira”, a qual se refere ao dia a dia de todos nós, bons e bem intencionados trabalhadores, verdadeiros malas com alça que entre outras atribuições peculiares a nossa lide, ainda temos que carregar nas costas as pesadonas malas sem alça. Leiam com bastante atenção e no final me digam com sinceridade, quem dentro de qualquer corporação, quer na área burocrática ou chão de fábrica, não passou pelos terríveis suplícios que são o convívio com os “malas sem alça”. Diz o texto de veja:
-Em meados nos anos 90 o economista Jeremy Rifkin decretou o fim do emprego formal. De acordo com ele, a revolução tecnológica levaria a uma redução gigantesca do quadro de funcionários nas grandes empresas da área industrial e financeira, e o setor de serviços não conseguiria absorver os milhões e milhões de postos de trabalho fechados. Restava aos profissionais do mundo fabril e corporativo, inclusive os altamente qualificados, enfrentar mês a mês de sísifo dos freelancers. Quinze anos depois de Rifkin lançar seu epitáfio, o pior não veio, apesar de todos os solavancos: o emprego estável, com garantias previstas pelas legislações trabalhistas, em formas reconhecidas, não acabou – muito menos em países emergentes, como é o caso do Brasil. Se nas nações desenvolvidas a paisagem não pode ser considerada rósea, embora esteja longe de exibir as tintas do apocalipse, por aqui vem ocorrendo uma forte expansão de alto a baixo da pirâmide hierárquica. Pegue-se o exemplo dos degraus superiores: o numero de funcionários com nível universitário nas grandes empresas, boa parte deles com função decisória, saltou de 436000 em 1998 para mais de 1 milhão em 2008. E o mercado corporativo permanece aquecido.
Enfim, tornar-se mala com alça – ou seja, ocupar um cargo gerencial ou executivo – continua a ser uma meta almejada e realizada por muitos. As estatísticas, porem, passam longe das dificuldades oferecidas pelos malas sem alça - aquele pessoal que dedica toda a sua energia à criação de problemas para os que querem apenas e tão somente trabalhar. Essa fauna abrange desde os colegas fofoqueiros e oportunistas até os burocratas dos departamentos encarregados de zelar pelo bom andamento das operações, mas que se entusiasmam por criar formulários e inventar reuniões tão longas quanto desfocadas. O resultado é um ambiente carregado não só de situações embaraçosas, como de um sem-número de tarefas inúteis. Não há duvidas de que as relações profissionais, de uma década para cá normatizadas pelo ideário politicamente correto, estão mais cordiais nas aparências (o que não é pouca coisa, diga-se). Mas o panorama visto das baias e salas de divisórias que não alcançam o teto poderia ser bem melhor. Uma pesquisa recente feita pelo grupo CATHO, especializado em recursos humanos, mostro que 20% das demissões estão associadas a problemas com colegas e chefes e excesso de pressão. “Um bom ambiente profissional é tão importante quanto gostar do que se faz”, diz a consultora Lia Fonseca, do Portal You & Your Career.
Com base em um levantamento feito junto às principais empresas de recursos humanos no pais, VEJA selecionou os dez problemas mais comuns que se enfrentam hoje nas companhias:
1) Horários pouco flexíveis e excesso de pressão. 2) Treinamentos e entrevistas esdrúxulos. 3) Importância excessiva a diplomas. 4) A valorização de profissionais que vem de fora em detrimento daqueles que já estão há anos na companhia, com bons serviços prestados. 5) Roubo de crédito pelo trabalho. 6) Chefes arrogantes e prepotentes que não sabem delegar e cobra tarefas. 7) Processo de fritura (quando os chefes forçam a demissão do funcionário submetendo-o a humilhações). 8) Medo de pedir aumento. 9) Falta de clareza do funcionário e da empresa na hora de negociar propostas. 10) Dificuldade em lidar com a hierarquia.
*O QUE OS FUNCIONÁRIOS QUEREM DE UMA EMPRESA
>Hoje:
1 – Bom ambiente. 2 – Desenvolvimento profissional. 3 – Qualidade de vida. 4 – Possibilidade de rápido crescimento e 5 – Empresa com boa imagem e credibilidade no mercado.
>Há cinco anos:
1 – Empresa com boa imagem e credibilidade no mercado. 2 – Bons salários e benefícios. 3 – Desafios. 4 – Valorização profissional e 5 – Carreira internacional.
*OS DEZ PECADOS CORPORATIVOS (coisas que quase todo mundo faz, e continuará a fazer, mas não deveria)
1 – PASSAR POR CIMA DO CHEFE: Realizar uma tarefa para o diretor da empresa sem avisar o próprio chefe revela desobediência à hierarquia e falta de profissionalismo.
2 – RELACIONAR EDUCAÇÃO E SIMPATIA COM PODER: Dispensar tratamento diferenciado a cada funcionário da empresa, aumentando a gentileza e a simpatia proporcionalmente ao poder do outro, é sinal evidente de interesse.
3 – INTIMIDADE NO ESCRITÓRIO: Apelidos e brincadeiras pessoais são incompatíveis com o ambiente de trabalho, seja entre colegas, seja na relação chefe-subordinado.
4 – MANIA DE TOCAR NOS OUTROS: É muito inconveniente qualquer tipo de contato físico, até mesmo segurar o braço do interlocutor. A informalidade pode atingir níveis extremos, como massagem nos ombros e carinhos na barriga de gestantes.
5 – SER O FUNCIONÁRIO LIVRO-ABERTO: Deve-se resistir a tentação de contar a mais recente discussão familiar ou amorosa. É uma superposição descabida entre vida pessoal e trabalho.
6 – BRINCAR COM PEDIDOS DE PROMOÇÃO: Comentários como “viu meu relatório, chefe? Não acha que eu mereço um aumento?” só causan constrangimentos e dificilmente resultam em propostas objetivas.
7 – TORNAR PUBLICA A INSATISFAÇÃO: Registrar queixas em e-malls, programas de conversa instantânea, twitter, Orkut, facebook é inaceitável. Além de tornar publica a reclamação, o funcionário produz provas contra si mesmo.
8 – EXCESSO DE FEMINILIDADE: Usar a beleza ou charme feminino para conquistar favores ou benefícios na empresa é antiético.
9 – DEMONSTRAÇÕES DE CARINHOS ENTRE CASAIS: Qualquer demonstração de afeto é inadmissível num ambiente profissional. Pior ainda é fazer comentários sobre assuntos da intimidade do companheiro.
10 – CHORAR NO TRABALHO: Chorar no banheiro é tão ruim quanto fazê-lo em publico. Evidentemente, todos vão perceber a demonstração de descontrole. É melhor sair, dar uma volta e não envolver outros funcionários em seu problema.
- E ai, o que me diz? Fez sua analise?
- O que? Você nunca teve problema com os malas sem alça na empresa? Também nunca burlou, ainda que inconscientemente, nenhum dos dez pecados corporativos?
- Que bom, companheiro, que você é e sempre foi autônomo. Que nunca trabalhou como empregado para ninguém. Parabéns!
- Mas se você ainda trabalha ou já trabalhou alguma vez como empregado e diz jamais ter passado por isso, desculpe: você está faltando com a verdade. Os malas sem alça são onipresentes e estão em toda e qualquer empresa. Quer como “entregadores”, “puxa sacos”, “sanguessugas”, “agitadores”, “formadores de opiniões negativas”, “fuxiquentos” e muitas outras “virtudes”. Eles são parte integrante de um processo continuo de obsolescência na empresa, dos quais ninguém se consegue desvencilhar.
-Por vezes, é preferível fingir-se de morto, que ter um “mala sem alça” a sua frente.
Enoque Alves Rodrigues.
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