Enoque Alves Rodrigues
Belos tempos aqueles quando juntamente com uma grande turma de moleques todos de uma mesma faixa etária, saiamos para nos divertirmos às margens do velho rio gorutuba, que nasce em Francisco Sá, antigo Brejo das Almas.
Ao contrário de seu lastimável estado atual devido a vários fatores negativos como a pesca predatória, lançamento de resíduos e esgotos em seu belo leito, assoreamento, ausência de matas ciliares em suas margens, naquela época podia se dizer que o rio gorutuba era o principal atrativo que havia em Francisco Sá. Famílias inteiras se dirigiam para lá a cada final de semana, para nadarem em suas límpidas águas, ou simplesmente para observarem suas quedas dágua e o vai-e-vem das lavadeiras ao seu redor.
O rio gorutuba banha várias cidades do norte das Minas Gerais, e seu caudaloso curso de águas ainda desperta muitas atenções até mesmo aos menos observadores. Talvez, quem sabe, pelo simples fato de possuir suas nascentes dentro do município de Francisco Sá, “beldade do norte de Minas”, seja ele tão belo assim.
Piscoso nos tempos de antanho, restam hoje poucas atrações neste setor. Mas ainda continua belo e faceiro.
Muitos cronistas residentes em cidades banhadas pelo gorutuba ao norte das Gerais como Porteirinha, Janaúba e adjascências descrevem-no como um rio em processo de decomposição e com plena carência de revitalizações urgentes. Pura verdade. O processo de degradação do gorutuba foi tão vertiginoso que hoje, mesmo com todo otimismo que possamos ter, é muito difícil recupera-lo. Certo está que jamais voltará a ter a mesma beleza e salubridade de seus tempos áureos. Faz-se, no entanto, indispensável que as autoridades constituídas iniciem, imediatamente, trabalhos sérios com estes objetivos. Caso contrário pouco ou quase nada restará deste que foi o mais lindo rio do norte das gerais senão um triste e melancólico filete de águas turvas e sem vida a deslizarem-se, lentamente, pelos descambados do sertão das Alterosas na esperança de que um dia, quem sabe, volver-se mar. Com muitos espécimes e piscicultura abundante, com águas de um azul cristalino, porém salgadas. Bem, nesse caso, então, será qualquer outra coisa, menos o velho rio gorutuba de nossos sonhos e encantos pueris, que muitas e distantes infâncias embalaram ao som da cantilena formosa de suas águas e do tilintar de seus outrora incontáveis monjolos.
É...
Por vezes, não há nada que a ação do tempo e do homem não consiga destruir.
Enoque Alves Rodrigues, que atua na área de Engenharia, é Colunista, Historiador e divulgador voluntário de Francisco Sá, Brejo das Almas, Minas Gerais, Brasil.
Para me dedicar a revisão de meu próximo livro peço vênia aos meus queridos leitores para diminuir a freqüência de minhas crônicas até finaliza-lo.
Obrigado
Um grande abraço, brejeiros.